No próximo mês de agosto completam-se 29 anos sobre o dia [27 de agosto de 1994] em que Mário Castro se estreou oficialmente num rali (Rali Cidade de Esposende/Quinta da Barca, do Campeonato Nacional de Iniciados) como navegador. A partir daí, então com 19 anos, nunca mais parou, sendo hoje um dos navegadores mais antigos em atividade. Em 2014 sagrou-se campeão nacional de ralis absoluto, ao lado de Pedro Meireles, no Skoda Fabia S2000, e entrou para a história nesse mesmo ano, ao sagrar-se vencedor do Rally Cidade de Guimarães/Targa Clube pela diferença mais curta de sempre registada num rali: 0.3 segundos, face à dupla Ricardo Moura/António Costa (Skoda Fabia S2000).
1 – Se não fosse navegador e piloto, que outra carreira desportiva poderia ter seguido?
Desde sempre que a minha paixão foi o desporto automóvel em geral e os ralis em particular, talvez fruto de ser natural de uma cidade como Fafe que sempre ‘respirou’ automóveis. Claro que na minha adolescência cheguei a praticar futebol e andebol, só que não o fazia com paixão, mas sim pelo gosto pela atividade física e para disfrutar dos tempos livres com os amigos. Se não tivesse construído uma carreira no desporto automóvel, certamente que não enveredaria por nenhuma outra.
2 – Qual a situação mais curiosa e insólita com que já se deparou no decurso de um rali?
Não sou uma pessoa de reter muitas estórias do que se foi passando na minha carreira e talvez também por eu ser uma pessoa mais tímida, também nunca me meti em grandes aventuras. Mas, ainda que não possamos considerar uma situação insólita, posso relembrar um Rali da Corunha que fiz em 1998. Uma quinta-feira, o Luís Ramalho, na altura piloto, ligou-me a perguntar se eu estaria disponível para disputar o Rali da Corunha com ele, convite ao qual eu prontamente respondi ‘sim’. E a minha primeira questão foi: “Luís, e quando vamos treinar?…”. E obtive esta resposta: “Mário, não estás a perceber… Não iremos treinar! Faz o saco, porque viajaremos hoje para a Corunha porque o rali é amanhã”. Eu, naturalmente fiquei sem reação e só pensei para mim… “já me espetei”. Contudo, não voltei com a palavra atrás e retorqui: “Ok, vamos lá e logo se verá como correm as coisas”. Fiz o saco, fomos para a Corunha e quando chegamos ao hotel, o Luís tira uns papéis da sua mochila, atira para cima da cama e diz-me: “Estão aí as ‘notas’ para amanhã”. Eu só pensava: “Isto não vai correr bem, mas se ele assim quis, vamos lá para a guerra”. O certo é que fomos para o rali, eu não me perdi em nenhuma ‘nota’, tudo bateu certinho e fizemos uma bela prova com o Seat Ibiza, terminando no 21º lugar da geral, num rali que na altura era do Campeonato da Europa. Foi uma experiência incrível e ainda hoje tanto eu como o Luís a recordamos várias vezes.
“Eu via na dupla Sainz-Moya o modelo que um dia eu queria seguir com alguém na minha carreira”
3 – Há algum piloto ou navegador do WRC que seja uma inspiração? Quantas vezes visionou vídeos dele?
Sim houve… Hoje em dia não é tanto assim, mas há 40 anos acho que todas as crianças tinham um ídolo fosse de que desporto fosse e eu, como grande apaixonado pelo automobilismo, não fugia a essa tendência. Os meus eram o Senna na F1, o Joaquim Santos nos ralis nacionais e o Stig Blomqvist nos ralis internacionais, mas quando começou a aparecer o Carlos Sainz, esse sim, foi o meu protótipo de piloto. Um piloto talentoso, o primeiro a ser rápido em qualquer superfície e muito profissional. Foi ele que mostrou ao mundo que um só piloto poderia vencer qualquer rali e era desnecessário as equipas procurarem especialistas para cada prova. Olhando de fora, porque já na altura poderia haver outros pilotos muito profissionais, eu via na dupla Sainz-Moya o modelo que eu um dia queria seguir com alguém na minha carreira. Quanto aos vídeos, no meu tempo de miúdo eu via os programas Rotações e 4ª a Fundo e gravava-os. Quando passavam imagens ‘onboard’, o que era raro, eu pegava num caderno escrevia as ‘notas’ que o navegador estava a ditar e depois voltava atrás na gravação. Retirava o som à TV e começava eu a ditar as ‘notas’, tentando acompanhar a imagem. Essa foi uma das formas como eu aprendi a ditar ‘notas’, isto com os meus 10 anos, sem imaginar que um dia viria a ser navegador.
“Os melhores ralis em Portugal são o dos Açores e o da Madeira”
4 – Que prova do WRC mais o fascina? Sonha correr lá um dia?
Há muitos ralis que gostaria imenso de lá correr, mas acho que o Rali da Nova Zelândia, ao fim destes anos todos, ainda continua a ser o que mais me fascina. Quanto a ir lá, nunca podemos dizer nunca, mas acho quase impossível tal acontecer nesta minha fase da carreira.
5 – Em Portugal e no CPR, qual é o seu rali de eleição e porquê?
Naturalmente, tenho um carinho muito grande pelo Rali de Fafe. É espetacular e no qual conseguimos sempre divertirmo-nos, pois todos o conhecem bem, os troços são fantásticos e, claro está, é o rali da minha terra natal e que até passa à porta da minha casa. Mas, sinceramente, os melhores ralis em Portugal são o dos Açores e da Madeira. Têm troços muito bons, um ambiente envolvente único e umas paisagens fantásticas. São os dois ralis em que, independentemente do ritmo que impomos, o gozo de ir dentro do carro é enorme e único do princípio até ao final.
“O que me irrita e de quem não gosto é de treinadores de bancada”
6 – Que tipo de situação nos ralis é que o irrita verdadeiramente?
Várias, mas a que mais detesto é que venham ter comigo a afirmar que fiz um mau rali, e isso até pode ser verdade, em vez de começarem por questionar o porquê de eu ter feito um rali menos conseguido. Eu também tenho a minha opinião sobre as prestações de outras equipas, mas antes de dizer mal ou bem, tento perceber o porquê… Basicamente, não gosto de ‘treinadores de bancada’.
7 – Caso lhe saísse o Euromilhões, qual o carro de ralis [geração/Rally1] que adquiria para se divertir de vez em quando?
Eu sou um adepto fervoroso da Ford e por isso, se me saísse o Euromilhões certamente que neste momento adquiria um Ford Puma Rally1.