O mínimo que podemos dizer da Baja Dehesa Extremadura é que está a ser uma grande paródia: chegamos ao fim da semana sem conhecer ainda os resultados da prova que, na verdade, deveria ter terminado no domingo, ao final da manhã. A imagem que escolhemos para ilustrar este texto, retrata precisamente a paródia em que a prova de abertura da Taça da Europa FIA de Bajas se transformou. Mas isso é outra história, que contamos já a seguir…
Há desafios bem mais estranhos do que aquele que esta miúda, de Valência, decidiu enfrentar: colocar-se num lugar ermo do percurso da Baja Dehesa Extremadura e brindar os concorrentes com uma visão das suas formas. Termos aparecido nesse mesmo ponto foi uma coincidência com que ela, provavelmente, não contava? Aliás, quando apareceu outra viatura, também com portugueses, pareceu-nos que esta jovem ficou apreensiva quanto à execução da sessão que programara com detalhe.
Segundo contou, a ideia era divertir-se distraindo alguns concorrentes ao tirar a roupa no momento em que estivessem a passar junto dela. Mas não a roupa toda, é claro, que por vezes não mostrar tudo sempre deixa margem para a imaginação do público ganhar asas e sonhar. Quando ali chegamos, junto a um cruzamento cerca do quilómetro 10 do primeiro sector selectivo da tarde de sábado, pareceu-nos surreal ver esta miúda de tranças como que ali perdida, com um vestido azul bebé tão curto quanto colado ao corpo, de meias pretas que subiam quase até às coxas. Diríamos que estava vestida para uma noite na discoteca, nunca para levar um banho de poeira, como todos levámos durante mais de um par de horas que estivemos por lá.
Acompanhada por dois rapazes de dimensão bem mais “generosa” que a dela, a miúda lá foi vendo passar os primeiros carros, sem se chegar sequer muito à pista. Mas quando a “multidão” desapareceu – entenda-se, um jipe Toyota com três pessoas, que apenas aguardaram pela passagem do Mini de Alejandro Martins e José Marques – a atitude da miúda mudou substancialmente. E não deixámos de reparar no entusiasmo com que saudou a passagem do primeiro carro que viu passar, assim que se viu quase sozinha; a lembrar uma expressão muito portuguesa, que diz que “quem muito se baixa mostra o cú”, porque foi o que aconteceu quando se baixou para pousar no chão a lata de cerveja que estava a beber. E logo de seguida percebemos porque precisava das duas mãos livres, porque assim que sentiu a aproximação de mais um carro, num instante, tão rápido que pareceu um número de magia, despiu o vestido e deixou a descoberto o corpo, bem realçado pela “lingerie” preta que nunca despiu.
Não foram muitos os espectadores desta exibição. Talvez apenas meia-dúzia. Ou exactamente até ao primeiro carro que a saudou por uma vigorosa buzinadela. Quando isso aconteceu, vestiu o vestido, que não voltaria a despir, e deixou escapar, alto e bom som, com satisfação: “Desafio alcançado!”
Além dos concorrentes e dos dois rapazes vigorosos, as únicas testemunhas desta grande paródia de variedades em plena natureza fomos nós e um solitário elemento da organização, que para ali foi destacado, para impedir o acesso ao percurso de viaturas estranhas à prova. Era o Sérgio, jovem aficionado pelo motocross, que nos contou mais alguns pormenores desta sessão.
Ficámos a saber que um dos rapazes era o namorado da miúda e o outro “era um fotografo que veio de Tarragona para fazer uma sessão de fotografias com ela a exibir-se em “lingerie” frente aos carros”. Como não estávamos contratados para isso, nunca a fotografamos a ela. Mas não pudemos evitar que ficasse nalgumas das imagens. Domingo, também alguns concorrentes terão admirado esta miúda, mas já “com “lingerie” vermelha, para se ver ainda melhor”, como deixou escapar na tarde sábado, assim que terminou a sessão e, pelo que entendemos, aprovou as imagens que o seu fotografo registou. Estas fotografias são, aliás, a mais divertida prova da grande paródia em que esta competição se transformou.
A grande paródia continua até segunda-feira
E por falar em competição, ao que tudo indica a vitória absoluta de Tiago Reis e Valter Cardoso parece estar acima de qualquer dúvida, mas não nos sentimos confortáveis a arriscar o resultado de mais ninguém, entre a quase meia centena de concorrentes que terminou. Porque, conforme pudemos apurar, todos os dados registados no sábado pela empresa que assegurou a cronometragem e a operação dos postos de controlo, a Fotomotor, simplesmente desapareceram!
“Estamos na mão de um fornecedor que nos foi imposto pela própria Real Federação Espanhola de Automobilismo”, assegurou-nos, ainda no sábado à noite – e com ar entristecido – o responsável máximo pela organização, Pedro Pecero. Segundo adiantou o Presidente do Motor Club Villafranca, “felizmente que os representantes da FIA sabem que a nossa organização não é responsável pela situação”, acreditando que a avaliação final terá isso em consideração, para que a estreia na Taça da Europa FIA de Bajas não tenha sido também a última.
De acordo com as informações de que dispomos, a organização está a socorrer-se dos registos de GPS gravados pela Anube – que é concorrente da Fotomotor… – para verificar o tempo de cada concorrente em cada controlo e tornar possível estabelecer uma classificação com o rigor que se exige.
Podemos também dizer que, pelo menos para já, este trabalho incide, de acordo com as nossas fontes, somente na prova pontuável para a Taça da Europa FIA de Bajas. Ou seja, a Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting permanece em silencio até agora, quando já devia ter tomado uma posição pública sobre o assunto, que põe em causa a segunda prova do campeonato de Portugal.
Já relativamente às motos, temos de concluir que o rigor não faz parte das suas regras, mesmo em termos internacionais. Recordamos que a Baja Dehesa Extremadura pontuou para a Taça do Mundo FIM de Bajas. E os resultados foram todos aprovados, apesar dos dados também terem…desaparecido. Digam lá que isto não é uma grande paródia?
Texto: Alexandre Correia Fotos: AIFA/Alexandre Correia
