Tiago Reis começa a habituar-se às vitórias. Este ano, investiu numa nova Toyota Hilux Overdrive para reforçar as chances de ganhar novo campeonato. E um ano depois de terem ganho em Beja a prova inaugural da temporada, Tiago Reis e Valter Cardoso, o seu navegador, voltaram a ter um arranque triunfante. Desta feita, a oposição mais forte veio da parte de Hélder Oliveira e Carlos Jorge Mendes, que chegaram a passar pela liderança. Um furo já no derradeiro sector selectivo, quando estavam a um minuto do comandante, atrasou irremediavelmente a ‘velha’ Ford Ranger NWM, que desceu para o quarto lugar.
Vencedores do prólogo, por uma margem de apenas 1,2 segundos, Tiago Reis e Valter Cardoso somente não foram os mais rápidos num dos quatro sectores selectivos da prova organizada pelo Clube de Promoção de Karting e Automobilismo. Os Campeões de Portugal em 2019 apenas foram batidos por Hélder Oliveira e Carlos Jorge Mendes, talvez até os adversários menos prováveis para a discussão pela vitória, face à inferioridade da Ford Ranger perante um leque de novos carros bem mais competitivos. Na Baja T.T. Montes Alentejanos, em Beja e Serpa, Tiago Reis e João Ramos estrearam novas Toyota Hilux Overdrive, tal como André Amaral e Nuno Madeira alinharam com novas Ford Ranger 5.0 V8, preparadas na África do Sul pela Neil Woolridge Motorsport, mas com um grau de evolução maior que a de Hélder Oliveira. A este quarteto, juntaram-se em Beja dois Mini preparados pela X-Raid: o de Alejandro Martins e o do espanhol Luís Recuenco, que se diferenciam pelo estágio de desenvolvimento, embora ambos sejam máquinas ao mais alto nível.
Das quatro máquinas estreantes, metade ficaram pelo caminho: a Toyota de João Ramos, que voltou a ser navegado por Filipe Palmeiro, e a Ford Ranger de Nuno Madeira e Filipe Serra, que na primeira etapa furou por três vezes – descendo do terceiro lugar para o 18º lugar, que os fez não alinhar na segunda etapa. E se a Toyota de Tiago Reis andou praticamente sempre à frente, a Ford de André Amaral terminou no quinto lugar…a nove minutos e 11 segundos da sua outra Ford Ranger, precisamente a que foi conduzida por Hélder Oliveira.
Vitória de Tiago Reis plenamente merecida!
Tiago Reis e Hélder Oliveira foram os grandes protagonistas desta Baja T.T. Montes Alentejanos. Podíamos até dizer que a Toyota Hilux de Tiago Reis liderou ao longo de toda a prova, incluindo o prólogo, de seis quilómetros, e a passagem dupla por um par de sectores selectivos – na margem esquerda e direita do rio Guadiana, ambos com início próximo de Serpa – com 69,9 e 78,4 quilómetros respectivamente. Mas a verdade é que a meio do terceiro sector selectivo a Ford Ranger de Hélder Oliveira tinha-se adiantando o suficiente para se colocar no comando. O piloto de Barcelos foi mesmo o mais rápido em termos absolutos no terceiro sector selectivo, mas mesmo tendo ganho um minuto de 53 segundos a Tiago Reis, este ainda conseguiu recuperar a liderança, por uma margem de apenas 4,6 segundos. Na segunda etapa, ao vencer o quarto sector cronometrado, Tiago Reis dilatou a vantagem para um minuto e um segundo, para no troço final triplicar o avanço, batendo o segundo classificado por três minutos e seis segundos.
Após o segundo sector selectivo, considerando que o prólogo contou como o primeiro, o Mini Countryman de Luís Recuenco e Sérgio Jimenez ocupava o sétimo posto, desde logo com praticamente o mesmo atraso – três minutos e sete segundos – relativamente à Toyota de Tiago Reis que, por sua vez, dispunha de 21,9 segundos de avanço sobre a Hilux de João Ramos. Seguiam-se Hélder Oliveira, a quase dois minutos, o Mini John Cooper Works Rally de Alejandro Martins e José Marques, a pouco menos de três minutos, a Ford de Pedro Dias da Silva e José Pires, a exactamente três minutos e o Mini Paceman Proto de Henrique Silva e Henrique Damásio a três minutos e seis segundos. Nesta altura, ainda a prova estava a começar e Recuenco contava apenas sete décimos de segundo de atraso face a Henrique Silva, a menor diferença registada entre duas equipas.
À chegada, Henrique Silva preservava a sexta posição, mas com um atraso de 18 minutos e 19,3 segundos face ao vencedor, ou seja, três vezes mais do que registava depois do segundo sector cronometrado. Luís Recuenco, também manteve os pouco mais de três minutos de atraso para o comandante, mas fui subindo na classificação. No final da primeira etapa, o espanhol ocupava já o terceiro posto, numa recuperação a que não foram alheios alguns abandonos, nomeadamente os de João Ramos e de Alejandro Martins.
Nem a poeira foi pior para as equipas, que o road-book…
Quer um quer outro, desistiram após despistes no decurso do terceiro sector selectivo, de traçado globalmente mais rápido que o segundo troço. O Mini JCW Rally de Alejandro Martins e José Marques – que ocupava o quarto lugar – cumpriu apenas uma vintena de quilómetros, até que saiu do caminho e uma das rodas também ficou…pelo caminho, tornando impossível prosseguir. Logo ao início do troço, percorridos que estavam talvez apenas uns 600 metros, e ainda antes da primeira indicação do road-book, foi a Toyota Hilux de João Ramos e Filipe Palmeiro que se virou. Esta dupla estava no segundo posto, determinada a perseguir os líderes e inverter as posições a seu favor, mas o abandono tornou-se inevitável. Quer Alejandro Martins, quer João Ramos, apontaram o dedo à organização, acusando-a de não ter apresentado um road-book à altura das necessidades.
Quem acompanhou a prova, registou mais queixas quanto à qualidade do road-book, do que sobre a poeira, que nem sempre se dissipava entre dois carros, deixando o que vinha atrás algo condicionado pela menor visibilidade. Distâncias erradas, indicações confusas, imprecisas e até falta de indicações no road-book e marcações no terreno a assinalar pontos de maior risco foram as acusações que mais se repetiram. E não apenas pelos pretendentes aos primeiros lugares.
Mas há um factor novo a considerar, que de algum modo pode explicar as dificuldades sentidas pelas equipas e até alguns dos acidentes que se registaram: por decisão acordada com a recém constituída associação de pilotos de todo terreno, o road-book somente foi entregue à partida da prova e não na véspera, como sempre aconteceu até agora. E os cerca de 20 minutos antes da partida não são, de modo algum, suficientes para os navegadores folhearem página a página o road-book, fazendo as suas próprias marcações à margem, para melhor se prevenirem nos pontos mais sensíveis, nomeadamente aqueles que assinalam situações de perigo.
Em comunicado, emitido um dia após a prova, o Clube de Promoção de Karting e Automobilismo, enquanto entidade organizadora da Baja T.T. Montes Alentejanos, lamentou estas críticas. Mas, sublinhando que sempre foi sensível aos reparos que os concorrentes transmitem, o CPKA reiterou que o trabalho de execução do “road-book foi validado e revisto por nomes que dispensam apresentação quanto à sua competência no mundo do todo terreno”. Rematando o seu comunicado a recordar que, devido à entrega dos road-books 20 minutos antes da partida, “os navegadores não tiveram tempo para fazer o seu trabalho de preparação habitual e esta nova realidade certamente fez toda a diferença para uma prova tão exigente como a nossa”.
Seja como for, todos os pilotos e navegadores quando andaram nos lugares da frente foram unânimes em classificar mal o road-book, mas também as marcações no terreno. De modo geral, consideram que irem inúmeras as zonas perigosas que não estavam assinaladas, ou cuja indicação não reflectia o perigo real. Tirando um episódio, no terceiro sector selectivo, em que Tiago Reis e Valter Cardoso encontraram o caminho barrado com fitas, numa curta ligação em asfalto, sendo levados a prosseguir, erradamente, por um caminho de terra, ninguém se queixou de não ter encontrado o percurso. Esse não era o problema do road-book e das marcações no terreno, mas sim a sua adaptação ao ritmo de andamento cada vez mais forte dos pilotos mais rápidos. Porque havia inúmeros caminhos onde se atingiam velocidades na ordem dos 180 km/h e quando se leva um andamento destes, não só os caminhos parecem afunilar, como as curvas até mudam. Não mudam de desenho, obviamente, mas sim na forma como devem ser abordadas, requerendo uma advertência que nem sempre foi feita. João Ramos e Alejandro Martins, para darmos dois dos diversos exemplos, lamentam que a falta de informação correcta contribuiu para os acidentes que os eliminaram. E com as velocidades elevadas que se imprimem hoje em dia, também se torna cada vez mais difícil para os navegadores conseguirem ler e transmitir aos seus pilotos a informação de notas do road-book com distâncias muito curtas entre si. Pensar nesta questão ajudará, com certeza, a melhorar o desempenho das equipas e, provavelmente, a minorar as queixas…
Quase metade dos concorrentes ficaram pelo caminho
Quase metade das quatro dezenas de equipas concorrentes à classificação para o Campeonato de Portugal de Todo Terreno ficaram pelo caminho: contaram-se 23 carros à chegada, a que se somaram mais quatro das sete equipas participantes na Taça de Portugal de T.T.
Relativamente aos primeiros, importa salientar o desempenho de Pedro Dias da Silva e José Pires, que completaram o pódio. A dupla da Ford EXR05 Proto, uma das duas ‘Ranger’ de preparação nacional, construídas no atelier de Fernando Santos, começou a prova averbando o quinto lugar, mas subiram uma posição logo no segundo sector selectivo e mantiveram-se no quarto posto quase até final. O furo que atrasou Hélder Oliveira ofereceu ao piloto de Tomar a oportunidade de ascender ao terceiro lugar, que conquistou com pleno mérito, pois além de ter evidenciado um andamento coerente, a diferença para os carros que o antecederam dificilmente lhe permitiram ambicionar melhor; a menos que, como acabou por suceder com Hélder Oliveira, algum dos seus adversários se atrasasse…
À chegada, Pedro Dias da Silva tinha-se adiantado dois minutos a Hélder Oliveira, que mesmo com as dificuldades em trocar o pneu furado no último troço – numa operação mais demorada por não dispor de macacos pneumáticos, como os carros mais modernos – segurou sem dificuldade o quarto lugar: atrás vinha a nova Ford Ranger de André Amaral, que no final averbou nove minutos e 11 segundos de atraso para o seu conterrâneo. Na prova de estreia desta pick-up, André Amaral foi cauteloso: no prólogo conseguiu o 10º posto, para rapidamente chegar ao quinto lugar, que discutiu renhidamente com César e Tânia Sequeira. O abandono do Mini desta dupla de Portalegre – pai e filha – no último sector selectivo abriu caminho não só para Amaral recuperar o quinto lugar, como para outro Mini subir mais uma posição: o de Henrique Silva e Henrique Damásio, que foram sextos por larga vantagem sobre a Ford EXR05 Proto de Edgar Condenso e Sérgio Cerveira. À partida do último sector selectivo, Edgar Condenso estava igualmente na sétima posição, mas à frente de Henrique Silva, por quase três minutos. Um furo ainda nos primeiros quilómetros obrigou-o a parar para trocar a roda, perdendo desde logo essa vantagem, que uma segunda paragem ajudou a converter num atraso que acabou por ultrapassar os oito minutos.
A Ford de Edgar Condenso e Sérgio Cerveira chegou inclusive a ser alcançada pelo Mercedes-Benz A140 Proto de Jorge Cardoso e André Barras, mas esta dupla ribatejana acabaria por não conseguir acompanhar a recuperação final dos seus adversários, ficando no oitavo posto por 26 segundos de atraso. Desde o prólogo, Jorge Cardoso foi dos pilotos que mais posições melhorou ao longo da prova: começou em 23º e ganhou 16 lugares até final!
Vitória no grupo T8 para Michael Braun e Ivo Santos
Uma dúzia de equipas inscreveu-se com viaturas do grupo T8 e se metade não completou a prova, a verdade é que um terço andou a discutir os melhores tempos. Todavia, só duas equipas passaram pela liderança. No prólogo, a primazia coube a Henrique Lourenço e Ricardo Sobral, mas a Nissan Navara desta dupla completou a primeira etapa, depois de cumpridos três sectores selectivos, já na quinta posição. E a partir do segundo troço, foi o Porsche Cayenne Proto de Michael Braun e Ivo Santos que se posicionou na liderança, mantendo-a até à chegada, para não só vencer a categoria, como obter ainda um nono posto absoluto.
O BMW X5 CC de Sérgio Vitorino e Rafael Lutas ainda conseguiu vencer o terceiro sector selectivo e com isso ascendeu ao segundo posto entre os T8, depois de também José Mendes e Jorge Baptista terem sido registados como os mais rápidos em controlos intermédios. No entanto, o Campeão de Portugal T8 não só não chegou a vencer qualquer sector selectivo, como a sua Mitsubishi L200 jamais foi além do terceiro lugar na categoria, que à chegada somente confirmou por 20 segundos de vantagem relativamente a Henrique Lourenço.
Gualter Barros e Filipe Nascimento vencedores em T4 e T3
O grupo T4 registou três presenças na Baja T.T. Montes Alentejanos, entre eles os campeões em título no grupo T3: Alexandre e João Pedro Ré trocaram de categoria e começaram a prova na frente, mas não terminaram a primeira etapa, renunciando no terceiro sector selectivo, depois de terem ficado sem tracção posterior, entre outros problemas que os impediram de prosseguir.
Ao mesmo tempo que os irmãos Ré desistiam, o Can-Am Maverick X3 de Gualter Barros e Francisco Esperto passou para a liderança e daí em diante esta dupla manteve-se sempre distante dos únicos adversários que prosseguiam, Filipe e Maria Carvalho. À chegada a Beja, no final da prova, Gualter Barros juntou à vitória o décimo posto absoluto, enquanto os seus adversários colocaram-se no 12º lugar final.
A participação no grupo T3 foi limitada ao DPR 002 de Filipe Nascimento e Paulo Torres, que mesmo correndo contra si próprios, associaram a vitória ao 20º lugar absoluto, deixando para trás alguns adversários.
‘Gestão’ cautelosa levou Georgino Pedroso a vencer em T2
No grupo T2, que registou um quarteto de presenças, Georgino Pedroso e Carlos Silva começaram e terminaram a prova na frente, obtendo a vitória nesta categoria, além do 15º posto absoluto. Todavia, a dupla da Isuzu DMax não teve a vida facilitada, já que foram batidos logo no segundo sector selectivo por Joel Marrazes e José Motaco, que se adiantaram um minuto e 15 segundos.
A liderança de Marrazes foi bastante efémera, pois a sua Nissan Navarra não chegou a concluir o terceiro sector selectivo antes de esgotadas as duas horas de tempo máximo permitido. Assim, no final da primeira etapa, Georgino Pedroso já tinha recuperado o comando, passando a dispor de mais de seis minutos de vantagem relativamente aos adversários mais próximos: Simão Comenda e Luís Dias, numa Nissan Navara D22.
Regressados à prova no regime de ‘Super-Rali’, Joel Marrazes e José Motaco abriram a segunda etapa com nova vitória, no quarto sector selectivo, mas no quinto perderam para a Isuzu de Pedroso e Carlos Silva por apenas 10,7 segundos. Com a penalização sofrida no primeiro dia, Marrazes nem assim se livrou do último lugar, já a 55 minutos e 55,3 segundos dos terceiro classificados, João Franco e Pedro Inácio, igualmente numa Nissan Navara D22. Vencedor do campeonato reservado ao grupo T2 em 2020, João Franco teve uma presença muito apagada, com excepção do prólogo, onde foi segundo, a 13 segundos do mais rápido.
Domínio total de Cesário Santos na Taça de Portugal T.T.
O programa reservado aos sete concorrentes à Taça de Portugal, na Baja T.T. Montes Alentejanos, compreendia na primeira etapa a disputa do primeiro e terceiro sector selectivos, bem como na segunda etapa a presença no quarto e penúltimo troço cronometrado. O mais rápido foi sempre o mesmo: Cesário Santos, que acompanhado por Alexandre Gomes, numa Nissan Navara D21, ganhou tudo o que havia para ganhar.
José Maia, o vencedor da Taça de Portugal em 2019, regressou ao activo com a mesma Nissan Navara D21, trazendo António Dias como navegador. Na prova alentejana, nunca conseguiram andar ao nível do comandante, mas envolveram-se num duelo pela segunda posição com Paulo Matos e Olívia Domingos, que os conseguiram bater até ao seu Nissan Patrol desistir, já a meio do último troço.
Continuando marginalizados, os concorrentes da Taça de Portugal partem para os troços alguns minutos após a última equipa do Campeonato de Portugal. Raramente encontram espectadores à espreita, mas merecem que haja quem os aplauda, pois mesmo com carros velhos, o equilíbrio deste grupo está longe de os colocar em posição de inferioridade. Basta analisarmos os tempos estabelecidos nos três sectores que cumpriram para percebermos que os carros da ‘Taça’ não são, de modo algum, os mais lentos. Por exemplo, Cesário Santos estabeleceu um tempo no terceiro sector selectivo que o colocava entre os vencedores dos grupos T2 e T8…
Texto: Alexandre Correia Fotos:AIFA/Jorge Cunha e A.C.12