O caminho para Bisha tramou os portugueses! Os nossos compatriotas que se tinham classificado melhor no prólogo, perderam posições na primeira etapa do Rali Dakar 2021; em contrapartida, os que tinham ficado mais atrás, subiram alguns lugares. A jornada ficou marcada por um resultado perfeitamente clássico: um duelo Sainz-Peterhansel, que deixou os pilotos dos Mini John Cooper Works Buggy na liderança! Nasser Al-Attiyah e Brian Baragwanath, que partilharam a primazia no prólogo, desceram para a 10 e 21ª posições, respectivamente…
Bisha é a capital da maior província do sudoeste da Arábia Saudita. Tal como Jeddah, de onde a caravana arrancou, esta região encosta-se ao Mar Vermelho. Mas a cidade fica num planalto, a cerca de 600 metros de altitude. O caminho para Bisha foi longo em distância, com 623 quilómetros; mas apenas 277 quilómetros foram cumpridos em contra-relógio. E ninguém que tenha lido o ‘briefing’ do director da prova foi surpreendido pelas dificuldades, pois todas elas estavam anunciadas!
Entre todos os participantes, foram raros os que não furaram uma vez. E também poucos terão completado o caminho para Bisha sem se perderem. Por exemplo, Carlos Sainz e Stéphane Peterhansel sofreram uma e outra coisa: pararam para trocar uma roda furada e andaram às voltas em busca do rumo certo. Mas lá o encontraram e bem melhor que todos os adversários. A Ford Ranger Raptor do checo Martin Propok, que foi o terceiro automóvel mais rápido, perdeu quatro minutos e 42 segundos para o vencedor. Quase nada, se compararmos com os 12 minutos e meio que a Toyota Hilux de Nasser Al-Attiyah perdeu para o Mini de Sainz; e enquanto Prokop ascendeu ao terceiro posto absoluto, Al-Attiyah desceu para a décima posição…
Entre os portugueses, Ricardo Porém foi que mais perdeu
Entre os pilotos portugueses, Ricardo Porém foi quem mais perdeu. E a palavra perdeu explica uma boa parte do atraso do Borgward de Porém e do seu navegador, Jorge Monteiro: ainda na parte inicial da etapa, sentiram dificuldades em encontrar o caminho certo. Isso fê-los perder imenso tempo, num atraso que depois se agravou quando o Borgward ficou atolado sobre um tufo de ‘erva de camelo’. Implacável, o cronómetro nunca parou e à chegada somaram mais 48 minutos e 54 segundos que o vencedor da etapa. O pior foi terem trocado o 17º pelo 41º posto absoluto.
Mas Porém e Monteiro puderam recolher ao acampamento sem mais preocupações, pois o Borgward superou esta primeira etapa sem acusar quaisquer problemas. O mesmo não pode dizer Paulo Fiúza, o navegador do lituano Vaidotas Zala: a dupla que corre com um dos Mini da equipa X-Raid chegou a Bisha a reboque da Toyota Hilux de outra dupla lituano-lusitana, Benediktas Vanagas e Filipe Palmeiro. Também estas duas equipas perderam posições: Vanagas e ‘Biga’ Palmeiro trocaram o 20º posto do prólogo pela 31ª posição. E Vaidotas e Fiúza caíram do 19º para o 33º lugar, depois de conhecerem problemas com o motor e a embraiagem do Mini…
A quarta formação dos automóveis que ostenta a bandeira portuguesa é composta pelo lituano Gintas Petrus e o nosso compatriota José Marques. Neste caso, a primeira jornada correu um pouco melhor que o prólogo: foram os 50ºs a completar o caminho para Bisha e subiram para a mesma posição. O que significou que Petrus e José Marques melhoraram sete lugares na classificação!
Entre os ‘motards’ nacionais, passou-se mais ou menos a mesma coisa: Joaquim Rodrigues, da Hero Motorsport, perdeu uma dúzia de posições, trocando o 10º pelo 22º lugar absoluto. Rui Gonçalves, da Sherco, estavam em 20º e perdeu seis posições, mas Alexandre Azinhais, que corre com uma KTM 450 Réplica, logrou subir do 71º para o 64º lugar.
Quanto às duas equipas dos ‘Veículos Ligeiros’, a situação foi semelhante. Mas enquanto Lourenço Rosa e Joaquim Dias apenas cederam uma posição em termos absolutos, trocando o 21º pelo 22º lugar, já Rui Carneiro e Filipe Serra caíram do nono posto para o 53º lugar. Decididamente, foram os portugueses com menos sorte nesta longa jornada, em que a caravana do Dakar percorreu o caminho para Bisha, terra de três milhões de palmeiras, que é uma das regiões agrícolas mais importantes da Arábia Saudita.
Texto: Alexandre Correia Fotos: D.R.