“Foi bruxedo! Ainda hoje, ao fim deste tempo todo, não consigo encontrar uma explicação para o que aconteceu. É uma das minhas nódoas como navegador”, recorda, passados quase 32 anos, e agora com boa disposição, Miguel Oliveira, o outrora patrão da equipa Diabolique e navegador de Joaquim Santos, a propósito da célebre edição do Rali do Alto Tâmega de 1988.
A dupla Santos/Oliveira, no Ford Sierra RS Cosworth, foi a grande dominadora da prova, terminando com uma vantagem confortável sobre a dupla José Miguel/Ricardo Caldeira (Ford Sierra RS Cosworth). Bento Amaral (Renault 11 Turbo), da equipa oficial da Renault Galp, foi terceiro classificado. Era um excelente resultado para a equipa Diabolique, até porque Carlos Bica (Lancia Delta HF 4WD), o grande rival de Joaquim Santos na discussão do título, tinha desistido.
Contudo, no último controlo horário, em Vidago, Miguel Oliveira engana-se e manda Joaquim Santos avançar 5 minutos antes da (sua) hora ideal. Resultado: penaliza 10 minutos e perde uma vitória que seria preciosa para chegar ao título de campeão nacional. Com a penalização, a dupla perdeu seis lugares na tabela classificativa, não indo além do 7º lugar, a 7m14s de José Miguel Leite Faria, o inesperado vencedor.
Logo a seguir, na última prova da época (Rali do Algarve), mesmo terminando em terceiro, a Diabolique via o título de campeão escapar a Joaquim Santos. Carlos Bica, quarto classificado nessa prova, festejava a conquista do seu primeiro campeonato, de um total de quatro consecutivos.
“Se nesse Rali do Alto Tâmega tivéssemos entrado na hora ideal no último controlo, tínhamos ganho não só o rali como o campeonato. Olhe, sofri muito com isso e, volto a repeti-lo, ainda hoje não sei como foi possível ter acontecido tal coisa”, acentua Miguel Oliveira.
Não deixa, no entanto, de ser surpreendente, ainda, a revelação do “doutor” da Diabolique, quando questionado a refletir, sobre o eventual motivo daquele lapso:
“Naquela altura andava uma gaja atrás de mim, em Vidago, mas eu não lhe ligava nenhuma. Aliás, ela tinha fama ligada a bruxarias. Aquilo no rali aconteceu e eu depois até me interroguei ‘queres ver que foi mesmo uma bruxaria?’, tal o inexplicável. É que de um momento para o outro, no controlo, eu digo, ‘Quim, vamos, vamos… está na hora’ e nós lá fomos”.
No Rali do Algarve desse ano, e fazendo uso do seu habitual bom humor, Miguel Oliveira levava consigo no habitáculo um despertador de grandes dimensões, brincando com uma situação que na altura lhe causou uma mágoa profunda.
“Até para os patrocinadores foi muito mau um percalço daqueles. Tentei levar, mais tarde, para a brincadeira, mas confesso que na altura fiquei muito ferido e chateado. A vida tem altos e baixos e aquele foi um momento baixo”.
A caminho dos 82 anos, que completará em dezembro próximo, e depois de uma fase em que devido a sucessivos problemas de coluna foi submetido a várias intervenções cirúrgicas, passando por momentos difíceis, Miguel Oliveira recuperou a mobilidade. Voltou a conduzir e, hoje, ainda se desloca duas vezes por semana à empresa, sediada no Porto, de que foi administrador e proprietário, que agora está nas mãos do seu filho, também de nome Miguel.