Estas fotografias são verdadeiramente espectaculares. De tal modo, que já estão a circular pelas redes sociais e milhares e milhares de adeptos, ou meros curiosos, já as observaram. Os conhecedores, claro, sabem do que se trata. Mas quantos conhecem realmente a história que está por trás destas fotografias “xtrodinárias” de José Nogueira?
A acção decorre neste domingo, ainda na parte inicial do terceiro sector selectivo da Baja T.T. ACP. Aconteceu num ponto em que o percurso se aproximava da estrada N121, algures entre Ermidas do Sado e Santiago do Cacém. Os concorrentes chegavam quase ao asfalto, vindos de um caminho rural, com piso um pouco irregular, num traçado entre grandes sobreiros. A aproximação fazia-se por uma suave descida e mesmo antes de tocarem na N121, viravam em “gancho” para a direita…
A curva, pelo ângulo tão fechado, garantia um bom espectáculo. E não era à toa que a organização a indicava como uma das ZE, abreviatura para “zona espectáculo”. Mas havia sempre o risco de alguns pilotos, pelo menos uns quantos, ao espreitarem o caminho que se abria depois do “gancho”, não resistissem à tentação de antecipar a aproximação, fazendo derrapar a traseira dos seus carros, para cortar a direito e reduzir o ângulo da curva.
A facilidade de acesso, por parte do público, além da localização, próxima da vila de Ermidas do Sado, convidava, com certeza, a uma boa afluência de espectadores. O que também daria uma boa “moldura” humana à passagem dos concorrentes.
O “pressentimento” de José Nogueira, da Photo Xtrod…
José Nogueira, um dos fotógrafos profissionais mais antigos, entre todos os que são especializados em desporto automóvel, chegou tão cedo que conseguiu estacionar o seu carro mesmo em frente a este entroncamento com a prova. Como que pressentia que iria registar uma colecção de fotografias “xtrodinárias”…
“Vi que a curva prometia espectáculo e à hora prevista de passagem dos carros, a luz estaria pelas costas, ou seja, seria perfeita” – disse-nos José Nogueira, da agência Photo Xtrod, que ele mesmo criou em 1978. “Mas vi também que havia um desnível entre o caminho de onde vinham e aquele para onde rodavam. E pressenti que quem cortasse um pouco a curva, acabaria por curvar sobre esse degrau e, no mínimo, levantaria duas rodas ao ar…”
À cautela, José Nogueira colocou-se um pouco mais abaixo, “procurando estar num lugar seguro, face a qualquer imprevisto”. E tal como o procurou para si, também pensou em quem estava à sua volta. “Vi que havia algumas pessoas em pontos que poderiam estar na linha de um eventual despiste. E chamei-lhes à atenção para isso, pedindo que se pusessem num ponto mais seguro, apenas uns metros ao lado…”
Assim que o primeiro carro surge pela frente, o “xtrodinário” José Nogueira viu a Toyota Hilux de Miguel Barbosa e Pedro Velosa a rodar a traseira na aproximação ao “gancho”, acelerando forte, em frente, antes mesmo de descrita a curva. Passaram por cima do degrau e continuaram a fundo, por entre um amplo campo verde, descendo até ao leito de uma ribeira, das poucas que o percurso fazia cruzar a vau e onde ainda havia alguma água.
O incidente recordado desde o volante, por João Ramos
É o próprio João Ramos que escreve como tudo se passou a bordo da Toyota Hilux “Dama Negra”:
“Quando nos aproximamos do gancho temos a percepção de ser um piso completamente regular e ai abordei com a colocação da Hilux de modo a permanecer com velocidade em curva, mas nada apresentava que havia um degrau que o mesmo quase provocou o capotamento. Tudo se passa muito rápido e no momento em que descemos o degrau com a Hilux a rodar e preparada para seguir em frente, reagi rapidamente ao “susto”, abrindo rapidamente a direção de modo a não capotar. Foi tudo muito rápido, reagi bem e com a sorte combinada tudo correu bem.”
“Mas vi também que havia um desnível entre o caminho de onde vinham e aquele para onde rodavam. E pressenti que quem cortasse um pouco a curva, acabaria por curvar sobre esse degrau e, no mínimo, levantaria duas rodas ao ar…”
“Francamente. Há muitos anos que acompanho o desporto motorizado, sempre que antecipo um perigo, aviso os concorrentes, em vez de testemunhar o pior… E mais digo: o perigo são as pessoas, que não têm de se colocar onde se colocam…”
Assistimos a tudo isto de longe, numa posição mais do que segura. Mas José Nogueira não só testemunhou, bem mais de perto, como viu tudo desde o ocular sua máquina fotográfica…
“Não fiquei surpreendido, pois já tinha pensado que isso podia acontecer. E como me tinha colocado mais abaixo, senti que estava bem alinhado para fotografar, mas não para ser atropelado. E não parei de disparar, registando a sequência toda em fotografias, como se tivesse gravado um filme. O que me arrepiou depois for ter visto que se a Toyota tivesse capotado, iria cair num ponto onde antes tinha estado um grupo de pessoas, que eu mesmo pedi que mudassem de lugar, por motivos de segurança!” E não temos dúvidas que isso deixou José Nogueira mais satisfeito do que ficou por ter conseguido estas fotografias “xtrodinárias”!
Texto: Alexandre Correia Fotos: Photo Xtrod/José Nogueira