Precisamente um mês depois da prova inaugural, este fim de semana o Campeonato de Portugal de Todo Terreno AM|48 volta à acção. E para a segunda corrida do calendário, anuncia-se uma chuva de estreias que só faz aumentar a expectativa. A novidade maior é mesmo esta Baja T.T. BP Ultimate ACP Santiago do Cacém/Grândola. Além dos novos cenários, será a primeira vez que uma provas destas terá metade do percurso em areia!
“Acreditamos que o campeonato precisa de diversidade e aproveitámos o facto do ACP ter criado uma nova prova, precisamente para oferecer algo que não é comum nas competições nacionais de todo terreno”, declarou o diretor da Baja T.T. ACP. Orlando Romana adiantou que “a grande novidade é a areia, que domina cerca de metade do percurso, o que, provavelmente, criará novas dificuldades aos concorrentes, sobretudo aos que não têm experiência internacional, em prova com areia”.
Tiago Reis é um dos pilotos que assume estar “apreensivo”. O Campeão Nacional em título, que parte para a prova organizada pelo Automóvel Club de Portugal na liderança do campeonato, depois de ter ganho em Beja, a jornada de abertura desta temporada, contou-nos que no final da semana passada conduziu “pela primeira vez em areia, num breve teste, que correu bem, mas não é suficiente para que possa dizer que é o piso onde me sinta confortável!”
O piloto reafirmou a sua apreensão quanto à condução em areia depois de quatro passagens por um pequeno troço deste tipo, que a organização da Baja T.T. ACP preparou, à margem da prova, para proporcionar aos pilotos um pequeno treino neste tipo de terreno. Tiago Reis e Valter Cardoso, o seu navegador, dispõem de um carro que está perfeitamente à vontade na areia, ou o Mitsubishi Racing Lancer não tivesse sido concebido para o Rali Dakar e para enfrentar as dunas do Sahara, onde, curiosamente, nunca chegou a correr!
Quem conduziu imensas vezes este mesmo carro foi Miguel Barbosa, o recordista de títulos nacionais de T.T., que regressa ao CPTT AM|48 para se candidatar a elevar o recorde para oito campeonatos.
Todos “contra” Miguel Barbosa e Pedro Velosa!
“Vou estrear uma das máquinas mais competitivas de hoje”, anuncia Miguel Barbosa, que alinha com Pedro Velosa a bordo de uma das Toyota Hilux que disputaram recentemente o “Dakar”, com as cores da equipa oficial. Aliás, Barbosa somente inicia agora a sua temporada “porque o campeonato começou muito mais cedo que o habitual e as viaturas ainda estavam a regressar da Arábia Saudita”. Seja como for, das sete provas, os pilotos este ano apenas podem pontuar em seis, pelo que Miguel Barbosa viu-se obrigado a escolher a primeira como a prova onde abdicou de pontuar. Mas apesar disso, o piloto parte bem mais confiante que Tiago Reis, “pois já tenho muitos quilómetros rodados em areia, nas diversas participações no Dakar, além de que ter corrido com esta Hilux em Portalegre, o ano passado, foi suficiente para me sentir familiarizado com o carro.”
E se Miguel Barbosa e Pedro Velosa são desde já considerados favoritos, João Ramos e Victor Jesus, também em Toyota Hilux, prometem “lutar pela vitória, como sempre fazemos nas nossas participações!” Os Campeões Nacionais de 2018 foram os primeiros, nesta sexta-feira, a percorrer o “shake-down” em areia. Depois da sessão, limitada a um máximo de quatro passagens por piloto, João Ramos disse-nos que “pelo que pude perceber, esta experiência em areia não é comparável ao que esperamos no Rali Dakar, mas sim ao normal em Portugal: andar em pistas estreitas, por entre árvores. E isso sobre areia, parece-me que vai aumentar o grau do desafio?”
Alejandro Martins e José Marques podem surpreender
Entre os favoritos, tem ainda de contar com Alejandro Martins e José Marques. Esta dupla dispõe igualmente de uma máquina que correu recentemente no Dakar – um dos Mini John Cooper Works Rally da X-Raid, que em Portugal é assistido pela MRacing. Já demonstraram que têm lugar entre os primeiros, ou não tivessem sido os primeiros líderes da prova anterior. No desfile simbólico da partida, ao cair da noite desta sexta-feira, em Vila Nova de Santo André, a equipa apresentou nova decoração no Mini JCW Rally, como que para assinalar que voltam a correr com o carro que estrearam o ano passado em Portalegre e que, entretanto, foi usado no “Dakar” pela própria X-Raid.
Os primeiros a partir para o prólogo, a meio da manhã deste sábado, serão Paulo Rui Ferreira e Jorge Monteiro. A Toyota Hilux do Team PRF foi quinta na prova de abertura do CPTT AM|48 2020 e o piloto está consciente que, “com o reforço de novidades nesta Baja T.T. ACP, se repetirmos a classificação anterior, já será um bom resultado!”
E falando em novidades, Pedro Dias da Silva e José Janela trazem uma das novas máquinas, uma Ford Ranger com motor V8 de 5,0 litros que o piloto afirma “ser ainda mais competitiva que a do ano passado” e que lhe permitiu ter sido terceiro no campeonato. A “antiga” Ford Ranger de Pedro Dias da Silva “passou” para Edgar Condenso e Nuno Silva e exibe agora as cores do Team Consilcar. “Em Beja, quando nos estreámos com esta pick-up, não conseguimos percorrer senão uma vintena de quilómetros, desistindo devido a um problema eléctrico. Daí sentirmos que esta será, verdadeiramente, a nossa primeira prova com este carro. E estamos, evidentemente, muito motivados, ainda que nos sintamos penalizados por termos de partir entre os últimos”, referiu-nos Edgar Condenso.
Animação garantida em todas as categorias
Nas diversas categorias, apontamos o favoritismo do grupo T3 aos irmãos Alexandre e Pedro Ré, que repetem a participação um Can-Am, “mas agora com um Maverick X3, um pouco mais competitivo que o anterior, mas ainda limitado, por imposição regulamentar, em termos de velocidade”, disse-nos o piloto. Para Alexandre Ré, o Can Am “pode ser muito interessante nas passagens estreitas em areia, mas o que aí ganharmos, devemos perder nos troços mais rápidos, onde não temos velocidade…”
No grupo T2, assinala-se o regresso da Isuzu D-Max dos Campeões Nacionais em título: Georgino Pedroso e Carlos Silva, que adiantam ter vindo determinados “em começar a defender o título, procurando revalidá-lo!” Já no grupo T8, Francisco Barata, que venceu o ano passado em Portalegre e já este ano em Beja, procurará que o ditado “não há duas sem três”, se aplique a si mesmo. A bordo da Nissan Navara V6, o jovem piloto algarvio volta a ter, no lugar do navegador, Sérgio Cerveira, que tinha trocado em Beja, para receber umas lições de um dos navegadores mais experientes: o veterano Carlos Silva, da Prolama!
Única dupla feminina nesta prova – mas não as únicas mulheres a participar! – Margarida Sá e Maria João Duarte apenas terão de levar a Isuzu D-Max até final para garantirem a Taça das Senhoras. E a taça, não esta, mas a de Portugal, conta com cinco participantes, que irão disputar o prólogo e o terceiro sector selectivo, o mais longo. Vencedores em Beja, na primeira prova do campeonato, João Paulo Oliveira e Pedro Cação (Nissan Terrano II), bem podem contar com a oposição de Joel Marrazes e Fábio Ribeiro (Nissan Navara D22), que os secundaram na Baja T.T. Vindimas do Alentejo e procurarão, certamente, inverter as posições…
Prólogo e dois sectores sábado, mais um no domingo
Com cerca de 250 quilómetros cronometrados, divididos por um prólogo (4,40 km) na sábado de manhã e dois sectores selectivos à tarde (com 60,12 km e 41,49 km), a que se acrescenta um terceiro sector (136,11 km) na manhã de domingo, a Baja T.T. ACP divide-se entre Santiago do Cacém, onde está instalado o parque fechado e onde terá lugar a partida e a chegada final, mas também por Vila Nova de Santo André, que ontem recebeu o desfile de partida, e Grândola, onde será o prólogo, já esta manhã de sábado!
Texto: Alexandre Correia Fotos: Aifa/Jorge Cunha