O Rali de Marrocos encerrou esta semana a temporada 2019 da Taça do Mundo de Ralis de Todo Terreno. A discussão pelo título permaneceu em aberto até ao fim, mas ao desistir na penúltima etapa o qatari Nasser Al-Attiyah deixou de poder defender-se. Ao seu mais directo adversário bastava o quinto posto para obter o título, e foi quarto. Graças a este resultado, Peterhansel é o novo Campeão do Mundo! Mas a festa em Fez, onde começou e terminou a prova marroquina, foi dividida. Por um lado, a Mini conseguiu o título graças ao veterano francês, em que duas décadas jamais tinha conseguido esta vitória. Por outro lado, na corrida o triunfo foi para a Toyota, com Giniel De Villiers a impôr-se pela quarta vez em Marrocos…
Giniel De Villiers já tinha ganho por três vezes o Rali de Marrocos. Primeiro com a Nissan Navara, com que se estreou na prova magrebina, em 2002, onde travou um interessante duelo com o português Carlos Sousa; depois já com a Volkswagen e o imponente Touareg. Mas faltava-lhe vencer com a sua actual equipa. E ao conseguí-lo este ano, “vingou” bem a pouca sorte de Nasser Al-Attiyah, que andou na frente até à penúltima etapa, desistindo antes do regresso a Fez. A Hilux de Al-Attiyah acertou em cheio numa pedra, por baixo, que fez subir as protecções inferiores e afectou em sensor, desligando o motor. E obrigando o piloto do Qatar a um abandono inglório.
Quarta vitória de Giniel De Villiers decidida em duelo
Ao retirar-se, Al-Attiyah deixou Giniel De Villiers na frente. Mas enquanto o piloto do Qatar já tinha conquistado uma enorme vantagem, o seu colega da África do Sul nem por isso: ao arrancar para a etapa final O Mini John Cooper Works Buggy de Carlos Sainz estava suficientemente perto, para que a vitória fosse discutida em duelo. E assim foi quase até ao final da jornada final. No entanto, acabou por ser um problema imprevisto a arbitrar e decidir este duelo em favor de De Villiers…
Já nos quilómetros finais do percursos, o buggy de Carlos Sainz começou a “ferver”. Tinha perdido a tampa do reservatório do liquido de arrefecimento e o motor sobreaqueceu. O piloto espanhol apenas terminou porque foi rebocado pelo Mini de Jakub Przygonski. E ainda assim, quer o espanhol, quer o seu colega polaco, conseguiram manter as posições que ocupavam: o segundo e o quarto lugares. Em terceiro estava o buggy de Mathieu Serradori, mas já depois da cerimónia de consagração, no pódio, aos verificarem o Century CR6 descobriram que não estava conforme o regulamento. A desclassificação de Serradori não só permitiu a Jakub Pryzgonski avançar um lugar, para a última posição do pódio, como deixou Peterhansel ainda mais confortável. O novo Campeão do Mundo terminaram em quinto, no limite para assegurar o título…
Diferença finais apreciáveis, quase que de “calendário”…
Ao olharmos para a classificação final deste Rali de Marrocos, ninguém diria que a prova foi tão intensamente disputada, como realmente foi. Porque os problemas que atrasaram Sainz fizeram terminar já a quase 18 minutos do vencedor. Pelo seu lado, Przygonski, ao rebocar o Mini do seu colega de equipa também perdeu preciosos minutos, que se reflectiram na diferença final: por pouco não ficou a uma hora da Toyota Hilux de De Villiers! E mesmo Stéphane Peterhansel, que na quarta etapa capotou e caiu num enorme buraco, registou quase uma hora e meia de atraso. E, ainda assim, não é à toa que Peterhansel é o novo Campeão do Mundo: mesmo que distante dos homens da frente, bateu por uma hora o adversário mais próximo: Yazeed Al-Rajhi, quinto com mais uma das Toyota Hilux oficiais…
Entre os primeiros classificados, as diferenças mais reduzidas foram registadas entre o sexto e o sétimos classificados. Neste caso, o duelo foi ganho por Nani Roma, que na etapa final aumentou de cinco para quase sete minutos a vantagem sobre Reinaldo Varela, defendendo o sexto posto. O mais curioso é que ambos foram também os “primeiros”. Roma foi o primeiro piloto que não conduziu nem uma Toyota Hilux, que asseguraram o primeiro, quinto lugares, nem um Mini John Cooper Works Buggy, que ficaram em segundo, terceiro e quarto. O piloto espanhol estreou-se em Marrocos pela Borgward e ainda que tenha andado distante dos seus antigos colegas de equipa, conseguiu o objectivo principal: Nani Roma tinha por missão levar o Borgward BX7 DKR Evo até ao fim, numa posição honrosa. E conseguiu!
Um SSV no sétimo lugar final!
Quanto a Reinaldo Varela, chegou ao sétimo lugar final com um CAN-AM Maverick, impondo-se novamente na categoria FIA dos SSV, de que é já Campeão do Mundo. Em Marrocos, esta vitória do piloto brasileiro não foi isenta de discussão: terminou com menos de dois minutos de avanço sobre o russo Sergei Karianki, num SNAG Proto…
A importância crescente dos SSV é inegável e isso ficou perfeitamente em evidência neste Rali de Marrocos. Os últimos quatro classificados do “top 10”, foram pilotos desta categoria. E não se pode dizer que atrás deles ficaram apenas máquinas de segunda linha. Nem pilotos de segunda categoria. Até porque entre os mais atrasados colocou-se um dos nomes de maior notoriedade de toda a lista de inscritos…
Aprendizagem de Fernando Alonso prosseguiu
Não se pode dizer que o ingresso de Fernando Alonso nas competições de todo terreno esteja a ser fácil. Em Marrocos, o antigo Campeão do Mundo foi o 26º classificado, entre 33 carros que terminaram. Chegar ao fim, ainda para mais classificado, já foi positivo. Mas a corrida de Alonso foi cheia de altos e baixos. Com mais baixos. Na etapa inicial colocou-se em 21º, mas na segunda tirada recuperou de tal modo que ascendeu ao décimo lugar absoluto. Todavia, na terceira etapa foi um dos muitos pilotos que não terminaram. E ao averbar 70 horas de penalização, tornou-se impossível escapar aos últimos lugares. Aliás, na etapa final, ainda piorou a sua posição…
Mas neste momento a experiência de Fernando Alonso começa a ganhar expressão. Já passou um pouco por todas as situações. E se o fez inúmeras vezes em sessões de treino, onde já percorreu largos milhares de quilómetros, também já participou em duas provas. Isso implicou sentir a pressão própria das corridas. Sem nunca ter desanimado. Nem se envergonhou, apesar do estatuto de vedeta…
A grande festa depois da chegada foi familiar: o casal Stéphane e Andrea Peterhansel é o novo Campeão do Mundo e o piloto não escondeu a alegria de ter conseguido o primeiro título mundial, “depois de mais de duas décadas a guiar automóveis!”
Texto: Alexandre Correia
Fotos: DPPI/D.R.