Dito assim sem mais nem menos, até parece um convite a recuarmos ao período filipino, antes de 1640. A anulação da Baja T.T. Rota do Douro Verde levanta a questão: para que o “Nacional” de T.T. volte a ganhar dimensão de um campeonato, não bastam seis provas. São mesmo necessárias as oito que antes contavam. E está demonstrado que só há entre nós quatro organizadores com capacidade real de execução. Como os espanhóis têm um problema semelhante, um acordo a nível ibérico resolvia tudo isto…
Um simples email, discretamente enviado nesta manhã de sexta-feira, anunciou que a Baja T.T. Rota do Douro Verde foi cancelada. Seria a quarta das seis provas do Campeonato de Portugal de Todo Terreno AM|48. A notícia colheu toda a gente de surpresa; pilotos e responsáveis pela FPAK – Federação Portuguesa de Automobilismo e Karting.
“Fomos absolutamente apanhados de surpresa”, admitiu à Todo Terreno o director de Marketing e Comunicação da FPAK. Segundo João Reis, “a anulação de uma prova é sempre uma coisa ingrata, que ninguém deseja. Mas não podemos aceitar de ânimo leve, que estas decisões sejam tomadas em vésperas do evento. E ainda menos da forma como aconteceu, sem que a FPAK tenha sido consultada”.
G.A.S. sem dinheiro para custos do “Douro”
Os responsáveis pelo Gondomar Automóvel Sport, o organizador da “Baja do Douro”, no seu breve comunicado, apontam razões financeiras para a anulação. A Todo Terreno procurou insistentemente estabelecer contacto com o organizador nortenho. Os esforços foram em vão, até ao momento da publicação deste texto. Assim, resumimo-nos à informação tornada pública, que alega não haver meios para fazer face aos custos com a segurança.
Já em 2017 o G.A.S. tinha anulado à última da hora a sua prova inscrita no CPTT. Aliás, as dificuldades do homens de Gondomar foram sempre conhecidas. Esta repetição faz levantar a questão quanto à confiança no G.A.S., enquanto organizador de provas de um campeonato da FPAK. Uma fonte desta federação, reconheceu mesmo que “a confiança é abalada quando as coisas acontecem assim…”
CPTT AM|48 reduzido a cinco competições
Em comunicado, divulgado esta sexta-feira a meio da tarde, a FPAK salienta entender que “as questões financeiras são muito complicadas de gerir com orçamentos limitados”. Mas fica perceptível que nem houve diálogo para fazer face a esta situação. O que leva a FPAK a anunciar que vai, “por isso, pedir esclarecimentos quanto ao que se passou”. E a federação deixa a promessa de “envidar esforços para salvaguardar os interesses do campeonato e dos seus participantes”.
“Nacional” de T.T. pode decidir-se mais cedo
Alexandre Ré, o líder do “Nacional” de T.T., num contacto com a Todo Terreno, deixou claro a “insatisfação pela decisão do G.A.S.”. O piloto declara-se “preocupado com esta situação”. Mesmo que reconheça que possa ser-lhe “favorável, em termos de resolução do campeonato”.
Todavia, afirma Alexandre Ré, “com menos uma prova, as chances do título se resolver mais cedo são enormes”. João Ramos, o Campeão em título, admite o mesmo e vai ainda mais longe: “Com os resultados óptimos que conta, Alexandre Ré facilmente garante o campeonato na próxima prova”.
Este cenário desperta sentimentos opostos a Alexandre Ré, como nos explicou: “Estão ainda em jogo 57 pontos, considerando as vitórias e o primeiro lugar nos prólogos e sectores selectivos. Pela minha parte, conto com 23 pontos de avanço. Por isso, basta-me ficar entre os primeiros na Baja T.T. de Idanha para poder ser campeão desde logo. Não terei de arriscar muito para conseguir isso. Mas”, remata, “gosto de lutar e não me agrada um cenário que mais tarde possa dar azo a que digam que não lutei pelo título”. Claro que quando se chega a meio do campeonato com três provas disputadas e dois segundo lugares e uma vitória, nunca se poderá dizer isso…
Insatisfação generalizada dos pilotos
Com menos uma prova, o campeonato será decidido com cinco corridas, das quais os pilotos podem reter as quatro melhores classificações. Tiago Reis, que está no terceiro lugar do “Nacional” de T.T. com 38 pontos, tantos quantos soma André Amaral acusa o G.A.S. de “falta de respeito!” Este piloto declarou à Todo Terreno que “nós também sentimos dificuldades em conseguir apoios. E assumimos compromissos com as patrocinadores, que têm uma expectativa. Não lhes podemos dizer apenas que a organização anulou a prova…”
Por sua vez, também Rui Marques, que discute com João Rato o título do grupo T8, também nos expressou a mesma indignação: “Eu mesmo, enquanto responsável por um clube, em Mação, vi-me confrontado com a mesma situação. E apesar da falta de meios, não pude deixar de pensar nos inconvenientes causados aos pilotos. E assumimos o prejuízo”. Daí que o piloto de Mação considera que o G.A.S. “não devia voltar a ter a oportunidade de organizar corridas”. Exactamente o mesmo que defende Tiago Reis.
Já Pedro Dias da Silva, o segundo classificado no CPTT AM|48, disse-nos que ficou “sem palavras, tal foi a surpresa”. Amarga, sublinhe-se, “pois não é a uma semana da prova que se toma uma decisão assim. É inadmissível e parece-me que a FPAK devia tomar medidas, para que não se repita”.
Nuno Matos ganha tempo para recuperar…
“Não posso dizer que tenha sido mesmo uma surpresa, pois o G.A.S. já o fez antes”, afirmou Nuno Matos à Todo Terreno. “Estávamos a fazer um esforço enorme para recuperar a Fiat Full Back, depois do acidente em Reguengos. Esta anulação, obviamente, vai-nos conceder mais tempo para que este trabalho seja feito com a necessária tranquilidade. O que não quer dizer que fique contente por não irmos ao Douro”.
Nuno Matos não poupa críticas ao clube de Gondomar, mas também aponta o dedo à FPAK: “O G.A.S. não nos deve merecer mais confiança e creio que a federação deve ponderar seriamente neste caso. A prova foi pedida pelo clube com muita antecedência. E marcada no calendário. É impressionante que só uma semana antes a organização descubra que não tem meios para a realizar. E é até irónico que um novo organizador se tenha proposto a entrar no campeonato e não tenha tido sucesso, mas nem por isso desiste”. Será no início de Setembro, em Beja. E é provável que consiga despertar o interesse aos pilotos mais preocupados com o compromisso com patrocinadores?
Federação deve começar a considerar plano B
Quem o diz é Carlos Silva, o navegador que dirige o Team Prolama e está à frente do grupo T2, onde as Isuzu que prepara colecciona sucessos. “O tema é melindroso, mas parece-me que é altura da federação pensar em criar alternativas. Se houvesse um ‘plano B’, pelo menos os pilotos e os seus compromissos ficavam salvaguardados”.
Este veterano faz uma pergunta que é quase generalizada, mas que não terá resposta: “A uma semana da prova, boa parte dos encargos estavam assumidos e são irrecuperáveis. Falo, por exemplo, na marcação de alojamento para toda a equipa. Mas falo também em horas extraordinárias para preparar todos os carros em três semanas. E falo da perda de receita por não podermos corresponder ao acordado com os patrocinadores. Quem nos vai pagar isso?” Ninguém, não é, Carlos Silva?…
João Ramos lança desafio à FPAK…
A reacção mais contundente que encontrámos à anulação da Baja T.T. Rota do Douro Verde foi a de João Ramos. O Campeão Nacional de T.T. diz que “ao retirar uma prova ao campeonato, morreu de vez a ideia de lutar por renovar o título”. Mas não é isso que deixa o piloto da Toyota Caetano agastado. “É sim, ver o campeonato absolutamente sub-dimensionado!”
” Teremos cinco provas, para contar com quatro resultados”, prosseguiu João Ramos. Que nos dá a sua visão: “O campeonato começou com oito provas e foi perdendo uma, depois outra e agora mais uma. Sinto que para que realmente tenha expressão como campeonato, deve voltar a crescer”. Mas este piloto também reconhece que neste momento há apenas quatro organizadores aptos. “Por isso, talvez a solução passe por um acordo entre a FPAK e a federação espanhola. Se juntássemos quatro provas portuguesas às quatro melhores de Espanha, teríamos um campeonato com dimensão. E não duvido que bastante disputado”.
Tanto quanto sabemos, esta ideia foi já tema de um contacto directo entre João Ramos e o Presidente da FPAK, Ni Amorim. E ficamos verdadeiramente curiosos de ver o que resultará desta troca de ideias?…