Estamos no meio das última dunas. Num sector do Peru compreendido entre Ica e Paracas, que parece o cenário perfeito para um grande final do Rali Dakar. Já não é estranha para nós esta zona, mas se é verdade que a contornámos por duas vezes e numa delas entrámos mesmo numa área de deserto, quando visitámos o Parque Nacional de Paracas, logo ao início da expedição, agora a ideia foi estabelecer a travessia completa, entre Ica e Paracas. Para isso, contrariámos todas as opiniões e conselhos. E ainda bem que nos aventurámos, para vivemos um dos melhores dias de toda a viagem. Indescritível, de tão forte! Foram umas horas cheias de curiosidade, alguma tensão pelo desconhecido, sempre à espera que, uma vez mais, fosse muito pior do que encontrámos. Bem, reconhecemos que não será para qualquer um. Definitivamente, sem nos queremos repetir, é necessária alguma dose de loucura para enfrentar o deserto sozinhos, sem qualquer tipo de apoio. O Kia Sorento 4WD acabou de superar os 4000 quilómetros rodados e enfrentou nesta jornada a prova mais dura desde que saímos de Lima. Mas segue impecável, pronto para muito mais! E nós, continuamos bem vivos. Depois de termos acabado de passar por uma forte tempestade de areia e de termos experimentado as dificuldades de navegar em condições de visibilidade quase nulas, com a agravante do vento fortíssimo apagar os poucos rastros que havia nalguns pontos do percurso, quando andámos fora de pista. Chegar ao oceano Pacífico, frente à ilha da Independência foi meia vitória. Estava cumprida a primeira metade deste itinerário. A segunda, foi um desafio ainda maior, pois diversas vezes desviamos-nos da rota ideal. Na parte anterior, o único veículo com que nos cruzámos foi uma velha pick-up de pescadores, que estava de capot aberto, com o motor a ferver. Não podemos ajudá-los. Depois, só voltámos a ver gente e veículos nos últimos quilómetros, quase a chegar a Paracas, onde os caminhos estão bastante consolidados e cheios de indicações, para que os turistas que vistam esse sector do parque não se percam. Estamos cansados. Muito mesmo. Mas foi mais uma jornada que valeu a pena. Daquelas que não se esquecem mais. E que nos fazem pensar apenas em repetir toda esta experiência, que se vai aproximando do final…