Chegámos ao ponto onde o caudal do Alto Madre de Dios engrossa com as águas do Carbón. Foi hoje a meio da manhã, bem nos confins da Amazónia peruana. Ali não há ponte nenhuma e para prosseguirmos há que procurar a passagem certa, num ziguezague pelo leito pedregoso deste enorme rio, que corre ao longo de 1150 km desde o cimo dos Andes orientais peruanos, até à Bolívia. Atravessa-mo-lo duas vezes e isso foi o suficiente para que em Atalaya, pequena aldeia neste cruzamento de rios, desde logo classificassem a nossa “camineta” como um “carro de competência”. Carro tem o mesmo significado para os peruanos que para nós, mas convém esclarecer que competência não; para eles o sentido literal é competição. A decoração do Kia Sorento 4WD e a facilidade com que navegámos através do Alto Madre de Dois impressionaram a população de Atalaya. Ali, nunca ninguém tinha visto um carro destes. E estavam habituados a que o rio somente fosse atravessado por veículos “puros e duros”, como os camiões e as pick-up’s. Quando subimos ao centro, quebrámos a rotina da aldeia. Conversámos com imensa gente, ofereceram-nos cerveja, pisco, whisky até, mas acabámos por aceitar apenas um café. Isso fez Miguel sentir-se orgulhoso por ser ele a receber os forasteiros. E contou-nos em meia hora de conversa descontraída tudo sobre esta terra perdida na entrada da Amazónia, que há 15 anos tinha apenas 28 famílias e que hoje conta já com 80, somando perto de 400 almas. Grande parte são crianças, que brincavam ruidosamente por ali. Os miúdos pescavam no rio, as miúdas dividiam-se entre as bonecas e a pequena loja que vende apenas artesanato feito pela comunidade local. Partimos ao fim da manhã. Sem vontade nenhum de partir…