Segunda das cinco provas que este ano integram o calendário do Campeonato do Mundo FIA de Rali-Raides, o Abu Dhabi Desert Challenge arranca no próximo domingo com a sua 32ª edição, que leva até ao mais rico dos Emirados Árabes Unidos um plantel de seis dezenas de equipas, divididas em partes iguais entre automóveis e motos. Portugal estará representado pela dupla João Ferreira/Filipe Palmeiro, que já vão a caminho do Golfo Pérsico…
“Partimos nesta quarta-feira para Abu Dhabi e vamos com bastante expectativa”, declarou à revista Todo Terreno João Ferreira. O jovem piloto de Leiria sublinha que “vamos reencontrar os mesmos adversários com quem competimos no Rali Dakar e depois dos resultados na grande maratona da Arábia Saudita, seria abusar da modéstia se disséssemos que não pensamos discutir a vitória. Claro que podemos sempre pensar que eu não tenho a mesma experiência, mas não a tinha em Janeiro e quando não sofremos problemas, andámos sempre entre os mais rápidos, daí que não sinta que é um exagero pensar em ganhar”.
Ferreira e Palmeiro juntos com a X-Raid
Inscrito pela X-Raid de novo com um Yamaha YXZ 1000 R Turbo Prototype, que já conduziu no Rali de Marrocos e no “Dakar”, João Ferreira confia que terá as melhores “condições para disputar todo o ‘Mundial’ e continuar a evoluir como piloto”, numa temporada em que terá sempre ao seu lado Filipe Palmeiro, que traz consigo a enorme experiência de largos anos de competições, nomeadamente em termos internacionais.
“O Yamaha ainda tem alguma fragilidade e sentimos isso no Rali Dakar, onde apenas furámos por duas vezes, mas onde nos atrasámos em diversas etapas devido a múltiplos problemas e sem isso, o nosso lugar final teria sido bem melhor”, considera Filipe Palmeiro. O navegador de Portalegre, que este ano participou pela 17ª vez no ‘Dakar’, adianta estar “confiante de que os problemas de juventude do Yamaha já tenham sido superados e que no Abu Dhabi possamos lutar por um resultado ainda melhor”.
Piloto e navegador estão, aliás, sintonizados no optimismo, que é reforçado pelo facto dos cenários desta segunda prova não serem “de todo estranhos, pois vamos andar no mesmo deserto onde decorreram as últimas etapas do ‘Dakar’ e a memória desse tipo de terreno ainda está bastante desperta”, diz-nos João Ferreira.
Por seu lado, Filipe Palmeiro confessa que “a capacidade de aprendizagem do João é impressionante e depois de apenas duas provas, que representaram, em termos de distância percorrida, mais do que dois campeonatos em Portugal, reconheço que evoluiu bastante e continua totalmente disponível para prosseguir a crescer enquanto piloto”. A propósito, o navegador alentejano assegura não ter “dúvidas quanto ao potencial do João Ferreira, que este ano cumprirá apenas a quinta temporada e chegará ao final do ano com uma vivência como poucos pilotos em Portugal, em termos de experiências nas mais diversas provas de todo terreno”. O Campeonato do Mundo FIA de Rali-Raides tem cinco provas, repartidas por três continentes – duas na Ásia, duas na América e uma em África. Cumprida a primeira prova, o resultado de João Ferreira e Filipe Palmeiro é, para já, animador, como o são ainda mais as perspectivas desta dupla…
Sextos classificados no ‘Mundial’, muito embora tenham sido apenas os 12ºs classificados na prova inaugural do campeonato, João Ferreira e Filipe Palmeiro viram-se recompensados pelo regulamento da FIA, que valoriza bastante os resultados de cada etapa. Neste aspecto, os portugueses foram especialmente felizes, já que não só venceram uma etapa, como se posicionaram entre os primeiros por diversas vezes, somando preciosos pontos adicionais, que lhes permitem estar bastante bem colocados no ‘ranking’ do grupo T3 do Campeonato do Mundo FIA de Rali-Raides. Dentro de uma semana, no Abu Dhabi Desert Challenge, a segunda das cinco provas do calendário ‘Mundial’, Ferreira e Palmeiro somente não terão de enfrentar um, entre os cinco adversários que actualmente estão colocados à sua frente no ‘ranking’…
Os T3 dominaram edição anterior
Os norte-americanos Austin Jones, Seth Quintero e Mitch Guthrie são os três primeiros classificados do grupo T3 e também já vão a caminho dos Emirados Árabes Unidos, tal como a espanhola Cristina Gutierrez, que ocupa o quinto lugar com grande avanço sobre os portugueses – soma 52 contra 28 pontos. Vencedor absoluto no ano passado, Francisco Lopes Contardo, o popular piloto chileno que se tornou conhecido pela alcunha “Chaleco” e que é o quarto classificado no ‘Mundial’ de T3, não estará desta feita presente na prova de Abu Dhabi e isso poderá facilitar a ascensão dos nossos compatriotas, que entre os 12 adversários neste grupo irão encontrar um novo, e de bastante peso: o sueco Mattias Ekström, que no Rali Dakar teve o mérito de ter levado até ao final o único dos três Audi oficiais, vai agora correr em T3, com um Can-Am Maverick da South Racing.
Com um total de 2170 quilómetros, o Abu Dabhi Desert Challenge arranca este domingo com o prólogo, ainda em Abu Dhabi, para depois a caravana deslocar-se até ao coração do deserto – o famoso ‘Empty Quarter’… – junto à fronteira com a Arábia Saudita, onde irão decorrer as cinco etapas, que têm em comum o mesmo acampamento, instalado do oásis de Qasr Al Sarah, bem no coração das dunas. Dia 4 de Março, sexta-feira, a última etapa trará os ‘sobreviventes’ de volta à cidade de Abu Dhabi, onde a prova terminará junto à costa do Golfo Pérsico.
A areia, claro, é o ‘prato forte’ desta prova, que desde 1991 já atraiu diversos pilotos portugueses. Foi em Abu Dhabi que em 2003 Carlos Sousa e Henri Magne se sagraram vencedores absolutos da Taça do Mundo FIA de Ralis-Raides, conquistando um título até hoje único entre os portugueses; o terceiro posto final da Mitsubishi Strakar de Carlos Sousa, em 2003, continua a ser o melhor resultado de um português nesta prova.
Este ano as atenções estarão viradas para os nossos representantes, João Ferreira e Filipe Palmeiro, que prometem discutir a primazia no grupo T3, mas também estarão viradas para novo duelo que se prevê entre a Toyota Hilux de Nasser Al-Attiyah e o BRX de Sébastien Loeb. O francês lidera o ‘Mundial’ com dois pontos de vantagem sobre Al-Attiyah, que embora tenha saído vencedor do Rali Dakar, não conseguiu amealhar tantos pontos quanto o seu adversário francês, que somou muitos ao ganhar oito das 14 etapas, além de ter terminado no segundo posto.
Novo duelo Al-Attiyah/Loeb em Abu Dhabi?
Al-Attiyah e Loeb já duelaram pelo título ‘Mundial’ na temporada anterior e a vitória final coube ao piloto do Qatar – por 20 pontos de vantagem… – mas o francês chegou à liderança do campeonato precisamente após o ‘Desert Challenge’, que não correu bem nem a um, nem ao outro. Aliás, para a história ficou a vitória e segundo posto finais obtidos pelos Can-Am T3 oficiais do chileno Francisco Lopez Contardo e da espanhola Cristina Gutierrez, que demonstram inequivocamente que em traçados onde a velocidade de ponta não é determinante, os T3 conseguem ser tão ou mais competitivos que os automóveis do grupo T1. Quem sabe se isto não se repete de novo, já na próxima semana?
Texto: Alexandre Correia Fotos: D.R.