André Amaral e Nelson Ramos arrancam esta manhã de Badajoz à frente da caravana da Baja T.T. Dehesa da Extremadura. Restam 107 quilómetros cronometrados e este derradeiro sector selectivo será uma ‘guerra de nervos’ quer para André Amaral, quer mesmo para os vários pilotos que o perseguem: Victor Grasa, num Maverick X3, está a apenas 20,8 segundos da Ford Ranger do piloto de Barcelos, mas a Toyota Hilux de João Ferreira e João Serôdio conta com um atraso de um minuto exacto para o comandante e somente dispõe de um segundo de vantagem sobre David Asensio, também num Maverick X3.
Perante as diferenças reduzidas entre os primeiros, diremos que até o sétimo, Luís Recuenco, poderá chegar à vitória, pois embora conte com três minutos e 19 segundos de atraso relativamente a André Amaral, basta um furo para alterar irremediavelmente qualquer posição. Curiosamente, quer Recuenco, quer Amaral, são exemplos de que nada à partida está perdido, pois ambos foram afectados por dificuldades no prólogo, que relegaram o Mini do espanhol para a última posição, e a Ford Ranger do português para 31º entre seis dezenas de concorrentes. E embora partindo atrás de pilotos bem mais lentos e sofrendo com a poeira que deixavam no ar, nem por isso deixaram de recuperar.
Luís Recuenco conseguiu mesmo a vitória no primeiro dos dois sectores selectivos deste sábado – o terceiro foi anulado, por causa de um atraso com as motos, que faria os carros rodarem já de noite. Graças a esse sucesso, associado ao quarto posto no segundo sector, o piloto do Mini Countryman ascendeu ao sétimo lugar absoluto, mas para ganhar ainda terá de anular o atraso relativamente ao comandante. Por sua vez, André Amaral e Nelson Ramos, mesmo sem ganharem qualquer sector cronometrado, conseguiram um equilíbrio perfeito de resultados: terceiros mais rápidos no primeiro troço e sétimos no segundo, foram os mais regulares e conseguiram com isso ascender à liderança.
Mas partir na frente é uma tarefa especialmente difícil nesta prova, em que o percurso não está marcado com o mesmo rigor a que os pilotos portugueses estão habituados. Disso mesmo se queixaram Edgar Condenso e António Serrão, os primeiros líderes, que sábado saíram de Badajoz à frente e regressaram em 15º, com um atraso que não se explica apenas pelos dois furos que os fizeram parar para trocar os pneus da Ford Ranger. O piloto contou-nos que ainda no início quer ele, quer todos os seus adversários mais directos, se perderam e rolaram em conjunto alguns quilómetros enganados, atrasando-se imenso. E foi graças a isso que alguns dos favoritos que à priori pareciam ter comprometido as suas chances, como foi o caso de André Amaral e Luis Recuenco, puderam recuperar ao ponto de estarem na discussão da vitória final.
Quem vai ganhar: portugueses ou espanhóis?
Depois de uma noite de tempestade por terras da Extremadura, a etapa final apresentará aos concorrentes condições completamente diferentes. Em vez da poeira que marcou a etapa de sábado, os pilotos vão enfrentar 107 quilómetros cronometrados através de caminhos que ainda estão encharcados pela chuvada intensa. E sem a cortina de poeira a dificultar a visão de quem vem atrás, recuperar será mais fácil para qualquer um. Isso vai tornar ainda mais difícil a tarefa de André Amaral e Nelson Ramos.
E o traçado mais sinuoso desta última etapa favorece veículos como o Maverick X3 Turbo dos espanhóis Victor Grasa e Manuel Navaro, que são segundos, repetimos, a apenas 20,8 segundos dos comandantes. Mas sem pó para os ‘travar’, também João Ferreira e João Serôdio, os terceiro classificados, estarão em condições de procurar adiantar-se mais, anulando o minuto de atraso relativamente a André Amaral. Assine-se que esta é a quarta prova de João Ferreira ao volante da Toyota Hilux Overdrive, que embora ultrapassada face às versões mais actuais deste modelo, nem por isso perdeu competitividade. E o jovem piloto de Leiria tem mostrado isso mesmo: um furo logo ao início do primeiro sector de sábado atrasou-o, mas a vitória no segundo troço bastou para lhe permitir uma recuperação até ao terceiro lugar. Seja como for, Ferreira e Serôdio – que o acompanha excepcionalmente nesta prova, devido a impedimento súbito de David Monteiro – só dispõem de um segundo de vantagem sobre o Maverick X3 dos quarto classificados, David Asensio e José Manuel Mata. Com estas diferenças tão reduzidas, a vitória está perfeitamente em aberto e o duelo Portugal-Espanha é liderado pelos nossos compatriotas, mas nada está garantido. E se à partida da segunda etapa havia seis equipas portuguesas entre os dez primeiros, agora são setes espanhóis contra apenas três portugueses entre os dez melhores…
André Amaral vai enfrentar os 107 km ‘mais longos’…
É caso para dizermos que André Amaral vai enfrentar os 107 quilómetros mais longos da sua carreira. O piloto jamais tinha estado à frente de uma corrida e conseguiu-o numa prova internacional, onde o equilíbrio entre os concorrentes tem sido notável. Vencer este desafio será, sem dúvida, marcante!
Quem também procura uma primeira vitória, mas apenas ao nível do grupo T2, é a dupla Joel Marrazes e José Motaco. A Nissan Pick-Up destes portugueses é agora a melhor posicionada entre os veículos de produção, sucedendo na liderança à Isuzu D-Max de Fernando Barreiros e Sérgio Cerveira, que desceram para o terceiro lugar, já a 13 minutos dos novos líderes…
Texto: Alexandre Correia Fotos: Aifa/Jorge Cunha/A.C.