A dupla Fernando Peres/Ricardo Caldeira jamais esquecerá o Rali do Alto Tâmega, e particularmente a edição de 1992, quando venceu a prova transmontana e logo na estreia com um Grupo A (Ford Sierra Cosworth 4X4), pela margem de… 1 segundo face a Jorge Bica (Lancia Delta Integrale 16V). Esta é, ainda hoje, a diferença mais curta de sempre entre os dois primeiros classificados de um rali na história do Campeonato.
Nessa época de 1992, Peres havia já conquistado, quando ainda restavam duas provas para o final do ano (Alto Tâmega e Algarve), o título de campeão de Grupo N e até reunia hipóteses de chegar ao título absoluto, embora não se afigurasse tarefa muito fácil: necessitava de vencer à geral o Rali do Alto Tâmega, em asfalto, e depois repetir esse resultado no Rali do Algarve, em piso de terra.
E como o passo seguinte, em termos de evolução da carreira do piloto da Peres Competições já estava definido, decidiu antecipar a aquisição do Grupo A prevista 1993. Viajou até Inglaterra e adquiriu um Ford Sierra 4X4 à Gordon Spooner Engineering para o ataque às duas últimas provas da temporada:
“Foi muito marcante, porque ia estrear-me com um carro de Grupo A e no último troço ganhámos 8 segundos ao Jorge Bica, vencendo o rali por um segundo. Comprei o carro ao Gordon Spooner e foi o seu filho que veio a guiar a carrinha com o Sierra 4X4 no atrelado. É curioso que já em Portugal disse-me que tinha trazido uns pneus especiais [mistura mais macia] para a eventualidade de nós estarmos a discutir algo de especial, e eles vieram a ser determinantes para o resultado final. Lembro de estarmos na assistência, já na parte final, e dizer ao filho do Gordon que o carro, com caixa de 7 velocidades, tinha pouca pressão no turbo. Ele aumentou a pressão para esse troço decisivo e, de facto, a diferença era enorme no desempenho do carro. Atacámos e consegui anular a minha desvantagem face ao Bica, que também procurava o seu primeiro triunfo absoluto, e vencer o rali. O Sierra 4X4 era espetacular e só fiz com ele esse Alto Tâmega e depois mais dois ralis do Regional da Madeira. A nível do campeonato, como o Rali do Algarve acabou por ser anulado, devido a problemas internos no Racal Clube, o clube organizador, o Joaquim Santos sagrou-se campeão”,recordou o piloto e “patrão” da Peres Competições.
Ricardo Caldeira, o navegador de Fernando Peres, já tinha saboreado, também no Rali do Alto Tâmega, a sua primeira vitória absoluta em 1988, com José Miguel (Ford Sierra Cosworth), mas na sua memória o “forcing” de 1992 ocupa um lugar muito especial…
“À entrada do último troço estávamos a 7 segundos do Jorge Bica e eu disse: ‘Fernando, vai ser muito difícil ganharmos’, ao que ele retorquiu: ‘Ó Caldeira, se não me chateares a cabeça eu vou cortar as bermas todas e vou ganhar’. E eu alertei: ‘Fernando, vais furar e nem em segundo lugar ficamos…’ O certo é que andámos muito bem e vencemos por 1 segundo. Chegámos ao final do troço e quanto estou a entregar a carta no controlo ouço um grande estrondo no tejadilho, levando-me a pensar que teria caído um poste em cima… O pai do Fernando, que estava junto ao controlo acompanhado do pai Bica, dera um murro no tejadilho, tão contente estava pela nossa primeira vitória absoluta”.
Se há 28 anos o Rali do Alto Tâmega teve um final impróprio para cardíacos, com uma diferença final de 1 segundo entre os dois primeiros, agora, no próximo fim de semana, a grande incógnita consiste em saber quem melhor se adaptará a classificativas que são novas para todos, numa altura em que o Campeonato está ao rubro.
Embora as grandes atenções estejam centradas no CPR (Campeonato de Portugal de Ralis), há outros motivos de interesse na prova transmontana, que é também pontuável no Campeonato de Portugal GT de Ralis, Campeonato de Portugal de Clássicos de Ralis, Campeonato Norte de Ralis, Peugeot Rally Cup Ibérica e Challenge R2&YOU.