Meio século e meio metro separam estes veículos e é caso para dizermos que aos 50 o Range Rover ‘ainda está para as curvas’. À esquerda, vemos uma das primeiras unidades produzidas para o lançamento, a 17 de Junho de 1970. À direita, temos uma das 1970 unidades da série especial ‘Fifty’, comemorativa deste meio século de produção. Embora somente tenha sido apresentada hoje, esta é também, desde já, uma peça de colecção: é um dos raros L405 a ser pintado em Tuscan Blue, uma das seis cores originais, tal como o Bahama Gold do clássico.
Mais de um milhão de unidades produzidas em meio século atestam a popularidade do Range Rover. Sempre foi o modelo mais caro da Land Rover. Daí que ter ultrapassado a barreira do milhão de unidades tem um significado de grande peso para a marca. E das quatro gerações de Range Rover produzidas nestes 50 anos, a mais recente é de longe a que atingiu os preços mais elevados. O mais curioso, é que o L405 – nome de código da quarta geração – ainda tem mais um ano de produção pela frente, mas já se colocou como o mais vendido de sempre.
O primeiro foi ‘eterno’ e os outros talvez ‘efémeros’?
Imaginado praticamente desde a fundação da própria Land Rover, o Range Rover demorou mais de duas décadas a ser lançado. Em Solihull, foi construído um protótipo do ‘Road Rover’, uma grande ‘station wagon’ de carroçaria fechada, logo nos primórdios da marca. Este não avançou para a produção, mas o tema jamais foi esquecido. E o processo foi reaberto em meados da década de 1960, quando a Land Rover promoveu uma ‘visita de estudo’ aos Estados Unidos da América. A ideia era perceber o que aquele que já era o maior mercado mundial comprava, para criar um produto dirigido aos norte-americanos.
No regresso ao Reino Unido, os homens da Land Rover trouxeram na bagagem dois veículos, como ‘fonte de imaginação’: o Ford Bronco, acabado de introduzir, e o Jeep Wagoneer. A partir do estudo intensivo destes dois modelos, a equipa da Land Rover, liderada pelo engenheiro Charles Spencer King, concebeu o Range Rover. E a história é por demais conhecida dos entusiastas. Tão conhecida que alguns até serão capazes de identificar peça a peça cada componente do modelo original, além de reconhecerem só com um golpe de vista a série e ano de fabrico.
Porque se o modelo original foi produzido até 1996, coincidindo nos dois últimos anos já com a segunda geração, daí em diante a passagem do testemunho foi incomparavelmente mais rápida. O P38A, nome de código da segunda geração, foi apresentado em Setembro de 1994 e cessou a produção no final de 2001. Seguiu o L322, que durou até 2012, quando deu lugar ao actual L405.
Mais de um milhão de unidades produzidas
Com mais de um milhão de unidades produzidas, o ‘best-seller’ da colecção Range Rover é o L405: em menos de oito anos de produção, o modelo actual já ultrapassou as 400.000 unidades, tendo-se tornado no mais produzido das quatro séries, seguido pelo L322 e pelo Classic, como se passou a designar o original.
As contas fecham com o P38A, que além de ter sido o de menor sucesso, foi ainda o que menos tempo se manteve em produção. Aliás, mal foi introduzido no mercado, no final de 1994, o P38A já tinha o ‘destino traçado’: avaliado pelo ‘número 2’ da BMW, que tinha acabado de comprar a Land Rover, o modelo foi imediatamente ‘chumbado’ e 1995 começa com a abertura do processo de criação da terceira geração do Range Rover. E esta teve um nascimento perfeitamente invulgar na história da indústria automóvel: foi desenvolvido entre Munique, nos estúdios de design e engenharia da BMW, e Solihull, onde ainda permaneciam instalados os serviços da Land Rover. Mas acabou por ser finalizado com a influência de Detroit e da Ford Motor Company, que em 2000 comprou a Land Rover à BMW…
A evolução do conceito de luxo sobre rodas neste meio século
Quando nasceu, o Range Rover era um veículo luxuoso, quando comparado com o Land Rover. Mas apenas nesta perspectiva porque, de resto, o modelo era bastante simples e mesmo espartano. Claro que representava um enorme avanço face ao Land Rover, pois tinha uma concepção mais virada para o transporte de passageiros.
A ideia foi-se desenvolvendo já depois do lançamento, à medida que foi encontrando sucesso. Por exemplo, grande parte das primeiras unidades de exportação com volante à esquerda foram absorvidas pelo importador Suíço. E os helvéticos conseguiram imediatamente posicionar o Range Rover como um veículo de excelência para as elites se deslocarem nas estâncias de Inverno. E essa fama nunca mais largou o Range Rover. Noutro sentido, grande parte dos primeiros Range Rover de volante à direita que foram exportados tiveram por destino a Austrália. E ali, as exigentes regulamentações locais obrigaram a marca a adaptar sucessivamente uma série de detalhes do Range Rover, para corresponder às regras deste mercado. Um dos exemplos mais visíveis dessas alterações ditadas pelas exigências australianas foi a recolocação dos espelhos retrovisores exteriores, desde os cantos anteriores da carroçaria para os cantos anteriores das portas.
O ‘sonho americano’ tardaria, porém, 16 anos em ser concretizado, embora a Land Rover tivesse recorrido a um motor a gasolina V8 de 3,5 litros de origem norte-americana. Todavia, logo na fase de lançamento o Range Rover foi recusado nos EUA, pois já não se enquadrava nas regras de emissões. E fazer evoluir o modelo para ultrapassar este ‘handicap’ tardou muito tempo, demasiado até. Hoje isso seria impensável, mas é preciso atender que esse período foi também um dos mais conturbados na história da marca britânica.
Actualmente, a cidade de Nova Iorque é aquela onde mais unidades do Range Rover são vendidas. E isto começou a ser realidade ainda com o L322, a terceira geração do modelo, que se tornou cada vez mais chique e sofisticado. Quando comparamos o interior do primeiro Range Rover com o da série especial apresentada a 17 de Junho de 2020 para celebrar os 50 anos do modelo, as diferenças são impressionantes. E bem reveladoras do quando o conceito de luxo sobre rodas evoluiu neste meio século. E o certo é que aos 50 o Range Rover ‘ainda está para as curvas’!
Texto: Alexandre Correia Fotos: Land Rover/Direitos Reservados