O projecto já não é de hoje. E reflecte a determinação de Victor Moniz em concretizar o sonho de ligar Lisboa a Luanda de moto. Começou a viagem na Primavera de 2017, mas ficou na fronteira da Nigéria. Mais tarde, já com novos companheiros, uma queda deixou-o na Nigéria; dentro de um mês espera arrancar pela terceira vez. Ao encontro de Victor Moniz, sairam ontem de Lisboa Hélio Rodrigues e Daniel Amaro. Para estes dois aventureiros, aventura é dar a Volta a África em UMM: conduzem um Alter II de 70 cv, produzido em 1990 para a frota da Guarda Nacional Republicana. E contam que em seis meses atravessem todo o continente africano. De norte a sul e vice-versa!
Quando dizemos que aventura é dar a Volta a África em UMM, temos consciência que Hélio Rodrigues e Daniel Amaro têm um enorme desafio pela frente. E não tanto pelos cerca de 40.000 quilómetros que estimam percorrer em 180 dias. Nem sequer porque irão enfrentar inúmeras etapas onde o desconhecimento será total. O que vai marcar mesmo esta aventura é o facto de a empreenderem com um clássico do todo terreno…
O UMM Alter II que Victor Moniz comprou para que os seus companheiros vão ao seu encontro até à Nigéria é um “veterano” da Guarda Nacional Republicana. Se fosse um militar, que tivesse entrado como “Praça”, no mínimo teria passado à disponibilidade como Primeiro Sargento. Mas trata-se apenas de uma viatura; foi recebida em 1990 com meia-dúzia de quilómetros, percorridos entre a fábrica da UMM e os parques de estacionamento e preparação para entrega. E volvidos estes 29 anos, já não está ao serviço da GNR, mas o odómetro marca um pouco mais de 277 mil quilómetros.
Terceira fase de um projecto cheio de determinação
Na primeira abordagem desta viagem, em 2017, Victor Moniz usou com veículo de apoio um Dacia Duster 1.5Dci. E o carro arrancou para África tal como, uns dias antes da partida, tinha saído do stand: absolutamente de série. Nem os pneus de estrada trocou. E se insistimos imenso em que o fizesse, a verdade é que o Dacia chegou ao Benin sem nunca ter sofrido sequer um furo. Uns meses depois, ao tentar retomar o percurso, Moniz fez integrar no seu projecto dois jovens que tinham o seu próprio plano. Partiram num velho Land Rover Discovery para dar a Volta a África e de caminho, Tiago e Gabriel encontraram Victor no Benin. Mas uma queda já na Nigéria impediu Victor de prosseguir…
“O projecto só ficará completo quando conseguir chegar a Luanda aos comandos da minha Yamaha Ténéré”, garantiu à Todo Terreno este português da Anadia, que reside em Angola há vários anos. “Mal tinha recomeçado a viagem, quando cai devido a uma distracção, em Lagos. A moto nada sofreu, mas eu sim. E tive de ser evacuado, para tratamento às lesões num pé”, recorda Victor Moniz.
Passados dois anos sobre a segunda interrupção, a viagem vai recomeçar com a terceira tentativa. “E quero acreditar que seja como o ditado popular, ou seja, que à terceira será de vez!” – diz-nos, confiante, Victor Moniz.
Usar um “clássico” como o UMM aumenta o desafio
“A escolha do UMM como novo veículo de apoio reflecte o meu desejo de homenagear a marca portuguesa”, justifica o responsável pelo projecto da Volta a África. “Os UMM tornaram-se lendários desde que foram correr o Rali Dakar e terminaram sempre. Isso fez-me pensar que um UMM também pode aguentar uma maratona como esta viagem”, tanto mais que o ritmo não será o da corrida.
Este UMM Alter II, com motor diesel Peugeot de quatro cilindros em linha e 2,5 litros, tem apenas 70 cv de potência. Mas dispõe de tracção integral inserível e caixa de transferências com relações longas e curtas. Mesmo com uma potência mínima, sempre foi uma máquina a vencer obstáculos. E o percurso prevê-se rolante. Daí que, embora Victor Moniz considere que “usar um clássico como o UMM aumenta o desafio”, não tem dúvidas em como “o carro vai chegar ao fim!”
Dar o exemplo aos candidatos a aventureiros
Victor Moniz pretende também dar um exemplo aos candidatos a aventureiros. “Para cumprir um sonho como este, não temos de ser milionários”, avisa. “Entre a aquisição e a revisão geral que mandei fazer até estar pronto para partir África abaixo, os gastos foram reduzidos”, adianta: “Não gastei mais de 7000 euros e conto que quando a viagem terminar, ainda tenha carro para andar!”
Quanto à preparação, Moniz revela que “nem isso lhe podemos chamar. Apenas me preocupei em verificar todos os órgãos essenciais e confirmar que tudo está a funcionar devidamente. Chegar a Luanda será uma vitória tão impactante quanto o foi em 1982 para a UMM, conseguir terminar o Rali Dakar”, considera o aventureiro.
A revista Todo Terreno é parceira desta aventura desde o primeiro momento. E prometemos ir dando conta do evoluir da viagem!
Texto: Alexandre Correia
Fotos: Hélio Rodrigues/Volta a África