O Passeio Portugal Norte-Sul começou ontem com aquele que foi o dia mais longo: praticamente três centenas de quilómetros decorridos entre Macedo de Cavaleiros e Castelo Branco. E percorridos essencialmente por caminhos de terra. Claro que nem todos conseguiram cumprir o itinerário, tal como estava previsto. Nem nós, que chegámos à Guarda já com o pôr do sol. E como o passeio não previa um desafio nocturno, daí em diante seguimos por asfalto até à chegada. E até conseguimos não ser os últimos!
Teríamos ficado ainda mais satisfeitos se tivéssemos conseguido cumprir o percurso todo. Sobretudo porque o que vimos até à Guarda foi tão bonito e agradável, que ficámos com uma sensação de alguma perda. Daí que para esta sexta-feira, tenhamos decidido inverter a posição na caravana: em vez de sermos os últimos a arrancar, seremos os primeiros.
Hoje, o percurso reserva-nos de novo bem mais de duas centenas de quilómetros. Que serão essencialmente cumpridos no Alto Alentejo, pois das Beiras já resta pouco: despedimo-nos da Beira Baixa quando cruzarmos o rio Tejo, em Vila Velha do Ródão. E isso não fica muito longe de Castelo Branco…
Reviver memórias da juventude
A primeira jornada do “Portugal Norte-Sul” trouxe-nos muito mais do que um desfilar de paisagens maravilhosas, desde o nordeste transmontano às terras beirãs. Reabriu-nos belas memórias de juventude, fazendo-nos sentir a participar no célebre Raid Transportugal, que José Megre e Pedro Vilas Boas criaram em 1986. Participámos em inúmeras edições e ontem lembrámo-nos de uma que começou igualmente em Trás-os-Montes e nos levou Portugal abaixo por paisagens como as que vimos.
A sensação de uma viagem no tempo, ao passado, foi ainda mais acentuada pelo veículo em que nos deslocamos. Trata-se de um Range Rover Classic 300 Tdi, branco, de cinco portas. Com um quarto de século. O primeiro carro destes que chegou a Portugal foi nosso. E rodou pela primeira vez nestes cenários, que visitámos quinta-feira. Andou junto às margens do Douro, com o Professor Aníbal Cavaco e Silva ao volante, seguido por um Range Rover quase igual, mas de motor V8 a gasolina e carroçaria blindada. Esse, levava ao volante o britânico John Major; um era Primeiro-Ministro de Portugal, outro do Reino Unido e encontraram-se para um fim-de-semana de férias no Douro, passando em todo terreno.
No regresso a Lisboa, o Range Rover de “Cavaco e Silva” tinha ainda apenas 700 quilómetros rodados. E foi essa a quilometragem que marcava quando o recebemos. E voltámos diversas vezes a fazer a viagem inaugural, a mesma que ontem nos pareceu estarmos a repetir.
Um clássico obriga-nos a estar preparados para avarias
Em 1994, esse Range Rover era um carro novo. Hoje, o que trazemos, com Frederico Gomes, o Presidente do Clube Land Rover de Portugal, é mais do que um clássico. “É um carro que há duas décadas só é usado para rodar em todo terreno”. E passa muito tempo guardado na garagem. Já viajou diversas vezes até África, onde conheceu as primeiras avarias. Algumas bastante arreliadores, como uma que sofreu há alguns anos numa passagem pela Mauritânia. “Nunca tinha tido tantos aborrecimentos, não pela gravidade da avaria, mas essencialmente pela dificuldade em repará-lo em Nouadhibou. Arranjaram-me um mecânico que desmontou o carro e depois não conseguiu voltar a montá-lo. Foi pior que uma dor de cabeça. Foi um pesadelo!”, recordou Frederico Gomes.
Ontem, quase também revivemos isso. Quase, porque o problema foi bastante simples: uma mera cruzeta do veio de transmissão que partiu, depois do esforço e da falta de lubrificação. Por ter estado tanto tempo parado. Foi isso que nos impediu de ter ido mais além da Guarda. Porque como o Clube Land Rover de Portugal trouxe um mecânico e um conjunto de peças sobressalentes que permitissem assistir “emergências” aos veículos do passeio, estreámos a “assistência em viagem”.
Uma hora e meia parados em Vila Franca das Naves, literalmente a ver passar comboios, pois estacionámos junto à estação dos caminhos de ferro, não só deu tempo para descansar, para socializar num dos cafés do largo e, tranquilamente, ver o Range Rover ficar pronto para mais uma tirada. Como a que agora mesmo vamos começar. Até logo, em Reguengos de Monsaraz!
Texto e fotos: Alexandre Correia