O Campeonato de Portugal de Todo Terreno AM|48 está a conhecer uma das suas temporadas mais competitivas: já lá vão quatro corridas sem repetir vencedor! Este fim de semana, em Idanha-a-Nova, foi a dupla Tiago Reis/Valter Cardoso que festejou o triunfo. Para conseguir chegar na frente, o Mitsubishi Racing Lancer do piloto de Famalicão teve de andar muito: venceu por praticamente três minutos de vantagem!
Os últimos dias deste Verão fizeram pensar que o Inverno tinha chegado mais cedo. E se no início de Setembro a nova Baja T.T. das Vindimas, prevista para a região de Beja, não se realizou por risco de incêndios, tal o calor, com a Baja T.T. Idanha-a-Nova o problema foi inverso: choveu tanto no sábado, durante o primeiro dia de prova, que não faltou quem fizesse a comparação e se interrogasse se a prova não corria o risco de ser cancelada pelo risco de enxurradas? Claro que isso nunca se colocou verdadeiramente, mas as condições do terreno alteraram-se bastante; e, de algum modo, isso conferiu uma emoção especial à prova.
Sobretudo no prólogo, quando a chuva foi forte e persistente, mas também no primeiro sector selectivo, menos chuvoso, a água deixou o piso escorregadio como manteiga! Curiosamente, não se registou nenhum despiste digno de assinalar. Talvez porque ninguém quis arriscar além do razoável. E o maior desafio foi mesmo não deixar o carro sair dos trilhos, procurando acelerar o mais possível sempre que o piso o permitia. Nem todos conseguiram sempre limitar o seu andamento às pistas. E muitos daqueles que acabaram por alargar a trajectória às bermas, acabaram por furar pneus. Houve quem furasse duas vezes. Mas ninguém desistiu por isso…
Para não variar, o primeiro comandante foi João Ramos e Victor Jesus. Ganharam o prólogo e conseguiram um punhado de segundos sobre Pedro Dias da Silva e José Janela; apenas 3,9 segundos separaram o tempo averbado pela Toyota Hilux dos mais rápidos, da marca estabelecida pela Ford Ranger EXR05 Proto dos segundos. André Amaral e Nelson Ramos, também numa Ford Ranger, foram terceiros no prólogo; ficaram a oito segundos dos melhores e bateram por somente 0,7 segundos o Mitsubishi Racing Lancer de Tiago Reis e Valter Cardoso. Aos 7,3 quilómetros iniciais, seguiram-se, ainda na chuvosa tarde deste sábado, mais 160,62 quilómetros, sempre em luta com o cronómetro…
João Ramos e Nuno Matos mal rodaram…
A primeira etapa, começou logo com dois abandonos de vulto, ou não fossem eles os vencedores das primeiras provas do CPTT AM|48: João Ramos e Nuno Matos. Quer um, quer o outro, pouco se afastaram da Zebreira, aldeia perdida nestas paragens da raia beirã, onde se disputou o prólogo e o arranque do primeiro sector selectivo. Victor Jesus não deu indicações a João Ramos senão durante meia dúzia de quilómetros. Ao chegar à primeira passagem em asfalto, Ramos sentiu que a caixa de velocidades da Toyota Hilux não estava em condições. Percebendo que a caixa provavelmente não resistiria ao esforço da prova, o Campeão Nacional em título decidiu que não valia a pena ir mais longe. E poupou o material, para melhor se preparar para o desafio final desta época, a Baja Portalegre 500, dentro de cerca de um mês.
Nuno Matos, que venceu a prova inaugural do campeonato, tal como esta, também organizada pela Escuderia Castelo Branco, renunciou logo após a partida. Não porque a sua Fiat Fullback Proto acusasse problemas, mas porque Pedro Marcão, o navegador, sentiu uma forte indisposição. E não estava em condições de enfrentar esses 160 quilómetros pelas pistas deste recanto beirão, delimitado pela fronteira com Espanha, pela serra de Penha Garcia e Idanha-a-Nova. “Vamo-nos concentrar para Portalegre”, desabafou Nuno Matos, declarando à Todo Terreno que “esta época começou de modo fantástico, mas o sonho transformou-se num pesadelo…”
Duelo sem tréguas pela liderança
Volvida uma trintena de quilómetros, no primeiro controlo de passagem, a contagem indicava que o mais rápido era o BMW EVO X1 de Alexandre e Rui Franco; os dois irmãos só dispunham de três segundos de vantagem sobre o Mitsubishi de Tiago Reis e Valter Cardoso. E como estes tinham sido mais rápidos no prólogo, eram os novos comandantes, por 5,2 segundos de vantagem. Pedro Dias da Silva e José Janela eram os terceiro classificados, com a Ford Ranger a 25 segundos dos comandantes. Quarenta quilómetros mais adiante, no segundo controlo de passagem, Alexandre Franco já tinha trocado o segundo pelo quinto lugar. Entre o BMW EVO X1 e o Mitsubishi de Reis, colocavam-se agora Pedro Dias da Silva, em segundo, a Volkswagen Amarok de Alexandre e Pedro Ré, e a Ford Ranger de André Amaral e Nelson Ramos.
Até ao terceiro controlo de passagem, instalado ao quilómetro 108, a liderança ainda ia trocar de mãos. Tiago Ramos e Valter Cardoso perderam a vantagem que já tinham conquistado, ao atrasar-se com um furo. Isso obrigou-os a parar para trocar a roda. E não podemos dizer que não tinham sido excepcionalmente rápidos nessa operação: tinham um minuto e 19 segundos de avanço e quando passaram no C.P.3 estavam em segundo lugar, com um atraso de apenas 34,6 segundos.
O “momento” de Pedro Dias da Silva foi curto
Percorridos mais cerca de 30 quilómetros, no controlo seguinte, o quarto, as posições cimeiras voltaram a inverter-se. E este curto troço foi o bastante para Tiago Reis se adiantar de novo, colocando-se à frente de Pedro Dias da Silva para 37,3 segundos. E esta diferença ainda cresceu para mais do dobro nos restantes 21 quilómetros até à chegada: Reis venceu a etapa por um minuto e 16 segundos de avanço…
“Tentámos tudo, mas o piso estava demasiado escorregadio, além de que andarmos a abrir a pista não nos ajudava nada”, afirmou Pedro Dias da Silva, justificando à Todo Terreno a perda da liderança. “Não era sensato arriscar mais, pois sentimos que rodávamos no limite da aderência. E foi mais prudente não ultrapassar esses limites”, rematou o piloto de Tomar.
Domínio absoluto de Tiago Reis na segunda etapa
Domingo ao final da manhã, quando a segunda etapa arrancou, para nova ronda por 167,10 quilómetros, as condições atmosféricas tinham mudado completamente. Continuava a não parecer um dia de Verão, mas já não lembrava o Inverno; apenas o Outono, pois estava tempo fresco e coberto, mas sem chuva.
As reduzidas diferenças entre os primeiros classificados criavam uma grande expectativa, mas a verdade é que todo o último sector se cumpriu sem que se registassem alterações. Controlo após controlo, Tiago Reis e Valter Cardoso registaram sempre o melhor tempo, consolidando gradualmente a vantagem, para terminarem dois minutos e 59 segundos à frente. Sem conhecer o mais pequeno problema, o Mitsubishi Racing Lancer permitiu a Tiago Reis obter a segunda vitória da sua carreira em todo terreno. E de novo sem contestação!
O ponto mais forte da última etapa acabou por ser o intenso duelo travado entre Alexandre e Pedro Ré, e a dupla Pedro Dias da Silva/José Janela. Em jogo estava o segundo lugar. E a Volkswagen Amarok dos irmãos Ré foi sempre a “sombra” do Mitsubishi dos comandantes, estabelecendo constantemente a segunda marca mais rápida. Vítimas de um furo no prólogo, os Ré perderam logo aí 45 segundos para Pedro Dias da Silva; mas durante a prova não conseguiram senão recuperar 29 segundos e ficaram, ainda assim, a 16 segundos da Ford. “Não tínhamos informações sobre o andamento dos nossos adversários e se tivéssemos sabido que estávamos tão próximos, teríamos forçado um pouco mais o andamento”, declarou Alexandre Ré. “Seja como for, o terceiro lugar mantém-me à frente do campeonato e a luta pelo título continua em aberto…”
Título absoluto continua por decidir!
Ao averbar o segundo lugar, Pedro Dias da Silva aproximou-se ainda mais do comandante do CPTT AM|48, enquanto José Janela, assumiu mesmo a liderança da classificação reservada aos navegadores.
Sempre alheados desta luta, André Amaral e Nelson Ramos terminaram no quarto lugar, depois da sua Ford Ranger ter oscilado entre a terceira e a sexta posições. Atrasados a meio do segundo sector selectivo, conseguiram recuperar dois lugares, para concluirem a prova com quase cinco minutos de avanço sobre os adversários mais próximos: os irmãos Alexandre e Rui Franco. O BMW EVO X1 dos Franco ainda chegou a ocupar o segundo posto absoluto, conseguindo a marca mais rápida no início do primeiro sector. Mas não conseguiram manter o mesmo ritmo ao longo de toda a prova e chegaram mesmo a cair ao sexto lugar. Acabaram por chegar ao quinto posto, ao adiantarem-se quase um minuto e meio à Toyota Hilux de Paulo Rui Ferreira e Jorge Monteiro.
Quando recuperar é a palavra de ordem…
Bastante atrasados a meio da primeira etapa, pois pararam por duas vezes para trocar pneus furados, Paulo Rui Ferreira e Jorge Monteiro ainda recuperaram até ao nono lugar, no final da jornada inicial. Na segunda etapa, a Toyota Hilux desta dupla esteve sempre entre os cinco mais rápidos; e foram melhorando gradualmente a sua posição, até chegaram ao sexto lugar final.
Já o Mitsubishi Racing Lancer de Miguel Casaca e Pedro Tavares foi até terras de Idanha-a-Nova para uma actuação regular: começou em oitavo e não fosse o abandono do Mini Cooper D Proto de César e Filipa Sequeira a meio do segundo sector, talvez tivesse terminado na mesma posição. Mas este desempenho tem a sua explicação: “Ficámos sem tracção dianteira a meio do primeiro sector selectivo. Conseguir chegar ao fim sem nunca sairmos da estrada, foi quase um milagre”, explicou-nos o piloto. No parque de assistência à chegada a Idanha-a-Nova, os mecânicos da ARC Sport rapidamente resolveram o problema, substituindo o semi-eixo dianteiro que se tinha partido. Mas o atraso acumulado já era difícil de recuperar, como se viu…
Recuperar foi literalmente a palavra de ordem para Edgar Condenso e Nuno Silva. A equipa do Opel Mokka Proto terminou o prólogo bastante sorridente, depois de terem conseguido um belo quinto posto absoluto. Todavia, no primeiro sector selectivo, foram-se atrasando bastante. Primeiro devido a um furo; depois, ao pararem de novo para trocar uma segunda roda furada. Chegaram a descer nove lugares, para o 14º posto. E logo encetaram uma boa recuperação, que lhes permitiu concluir o primeiro dia no 12º lugar. Na segunda etapa, a progressão continuou, subindo mais quatro lugares, para terminarem em oitavos e fazerem um balanço positivo!
O intenso duelo pela vitória em T8
Verdadeiramente intenso foi o duelo que decidiu a vitória no grupo T8. E esta luta foi travada de início ao final da prova, envolvendo a Nissan Navara de Francisco Barreto e Sérgio Cerveira, e o Bowler de João Rato e Vítor Hugo! Desde o prólogo até ao início do segundo sector selectivo, liderou a dupla algarvia da Nissan. Mas após o quinto controlo de passagem, o Bowler Wildcat de Rato tomou a dianteira e não mais cedeu o comando.
Com o aproximar da chegada, as posições permaneciam algo indefinidas, pois no último controlo de passagem a Nissan de Francisco Barreto estava apenas 21 segundos do carro de João Rato. E faltavam então precisamente 21 quilómetros para o controlo final. Mas Rato pisou mais forte no acelerador e chegou a Idanha-a-Nova com 50 segundos de vantagem. Não era preciso tanto para vencer o grupo T8 e tornar-se no primeiro piloto a garantir um dos títulos de campeão desta época!
Quem não chegou sequer ao final foi a dupla Georgino Pedroso e Carlos Silva: terceiros no final do primeiro dia, mantiveram-se nesta posição até ao sexto controlo de passagem. Isso era sensivelmente a meio do percurso da segunda etapa, mas a Isuzu D-Max da Prolama já não chegou a passar no penúltimo controlo, antes da chegada. O motor da pick-up “calou-se” e não conseguiram pô-lo de novo em funcionamento, obrigando Pedroso e Silva a desistirem…
E a luta pelo triunfo em T2 foi ainda mais forte
Três equipas disputaram a vitória em T2, tornando este no resultado mais renhido da prova de Idanha-a-Nova. Assim, no prólogo coube à Isuzu de Georgino Pedroso e Carlos Silva estabelecer o melhor tempo. já no início do primeiro sector selectivo, foi a Isuzu de Sérgio Palminhas e Joel Lutas que se instalou no comando. Para depois ser ultrapassada pelo Nissan Pathfinder de Nuno Corvo e José Camilo Martins. Terminada a primeira etapa, os lideres contavam com quase um minuto de avanço sobre o Toyota Land Cruiser de João Ferreira e David Monteiro. Esta diferença chegou a ampliar-se para o triplo no decorrer do segundo sector, mas na fase final, João Ferreira conseguiu reduzir o atraso para apenas 16 segundos. E as posições não se inverteram por muito pouco. Mas neste duelo, nem tudo correu de forma correcta: João Ferreira rodou bastante tempo com o seu Toyota literalmente encostado ao Nissan de Nuno Corvo, que simplesmente ignorou a perseguição e, ao contrário do que obriga o regulamento, nunca facilitou a ultrapassagem. Daí que esta vitória não seja o resultado mais distinto…
E a Taça foi para Tiago Canêdo Santos
Com uma corrida algo diversa, mais curta, os concorrentes à Taça Nacional de Todo Terreno são quase sempre esquecidos. Injustamente esquecidos, pois se é certo que andam arredados da animação, ou não tivessem os carros mais limitados, nem por isso deixam de competir. E em Idanha-a-Nova travaram competição séria, pois a vitória do Land Rover Defender 90 de Tiago Canêdo Santos e António Dias obrigou-os a suar bastante. Basta dizer que começaram 11,2 segundos atrás da Nissan Navara de José Maia e José Motaco, para terminarem apenas 24 segundos à frente desta dupla!…
Texto: Alexandre Correia
Fotos: AIFA/Albano Loureiro e D.R.