Quando foi lançado, o M-715 “Five-Quarter” era animado por um vagaroso motor a gasolina de seis cilindros em linha com 3,8 litros. Agora a Mopar recriou este veículo militar, dotando-o de um V8 de 6,2 litros com cinco vezes mais potência: a evolução vai de 132,5 cv em 1967 a 700 cv em 2019. Resulta nesta unidade exclusiva; é um dos seis veículos especiais que a Jeep apresentará dentro de dias no 53º Moab Easter Jeep Safari…
Ficou conhecido por “Five-Quarter”, ou por “cinco quartos”, se traduzirmos para português. Porque este pequeno camião ligeiro militar tinha uma capacidade de carga de 1250 quilos. Lançado em 1967, o Kaiser Jeep M-715 foi o primeiro Jeep militar produzido com base num modelo de uso civil: a pick-up Gladiator.
Com 5,328 metros de comprimento, 2,159 m de largura e uma altura de 2,228m, o M-715 esteve em dois “teatros de operações” militares. Foi sempre ao serviço das forças norte-americanas: no Vietname e na península da Coreia. Neste último caso no famoso Paralelo 38, que divide as duas “Coreias” em dois desde o termo do conflito armado.
Pouca fiabilidade “condenou” o M-715
Para a história dos veículos criados pela área militar da Jeep, hoje absolutamente autónoma e desligada da própria Jeep, o M-715 esteve longe de ter sido um sucesso. Bem pelo contrário, conheceu tantos problemas que deixou a linha de produção em 1969, apenas dois anos após ter começado a ser fabricado.
A produção total limitou-se a cerca de 33.000 unidades. Das que foram enviadas para as operações militares na Ásia, nem todas rodaram: uma parte serviu apenas para ceder peças para a reparação de outras. Tão frequentes eram as avarias e tão escassas as peças de reposição…
Os motores não resistiam ao desgaste, pois apenas 132,5 cv para fazer deslocar um veículo que pesava em vazio 2490 quilos já era pouco; mas quando carregado com os 1300 quilos de carga útil admitida, o M-715 era conhecido por arrastar-se, não por andar.
Quando se tratava das variantes dotadas com guincho de reboque, o risco de acidente era enorme! Este equipamento era montado à frente, implicando alongar o comprimento em 28 centímetros; além de sobrecarregá-lo com mais 230 quilos.
Chassis pouco robusto e motor pouco potente
Curiosamente, um dos problemas mais comuns dos M-715 era partirem a secção dianteira: não suportava o peso do guincho. Muitos sofreram, aliás, acidentes. Quando o guincho se partia com o veículo em andamento, normalmente arrancava a direcção, deixando o M-715 ingovernável.
O motor Tornado I6 de 3,8 litros consumia óleo em demasia. Rapidamente se percebeu que a árvore de cames à cabeça que o comandava tinha falhas de desenho. Isso, aliado à deficiente manutenção das unidades usadas em acção, resultou na imobilização de muitos veículos. Tantos que o contrato de fornecimento foi bastante mais curto que o previsto.
Escolhido para substituir o Dodge M37 como veículo táctico, o M-715 acabou mesmo por ser substituído pelas unidades do M37 que foram mantidas. Estes Dodge M37 foram desenvolvidos em 1951 para equipar as tropas que combateram na Guerra da Coreia. Tinham menos capacidade e potência, mas eram mais fiáveis e robustos que o Kaiser Jeep M-715.
Restaurado e totalmente revisto
Esta unidade do M-715 “Five-Quarter” será exibida no deserto do Moab, no tradicional encontro anual dos entusiastas dos Jeep. Tomou por base um veículo original. Mas foi minuciosamente restaurado e totalmente revisto. Nesta revisão deve entender-se acima de tudo a melhoria dos aspectos em que o modelo original era pobre.
O “pequeno” motor original de 3,2 litros e 132,5 cv foi substituído por um potente V8 HEMI de 6,2 litros, também a gasolina, que desenvolve 700 cv!
Sem desvirtuar o que era comum no final dos anos de 1960, a transmissão foi trocada: a caixa manual de quatro velocidades do M-715 deu lugar a uma caixa automática de três relações, também com bloqueios e redutoras.
O eixo dianteiro foi montado duas polegadas mais à frente da posição original. Por sua vez, os diferenciais Dana 60 e 70, à frente e atrás, foram trocados pelos Dynatrack Pro-rock 60 e 80. Finalmente, o chassis foi todo reforçado. E a suspensão de molas de lâminas deu lugar a braços com molas helicoidais.
Mantendo no essencial as linhas do M-715, este “concept” foi, no entanto, redesenhado em termos de pormenores. Isso é verdade logo na secção dianteira, mas também no interior. A bordo, reconhecem-se, por exemplo, os bancos individuais do novo Jeep Wrangler, mas sem encostos de cabeça.
Recriar sem desvirtuar o modelo original
Montando jantes com 20 polegadas de diâmetros e enormes pneus com 40 polegadas, este “novo” M-715 não desvirtua o modelo original.
A ideia dos engenheiros e desenhadores da Mopar foi toda no sentido de melhorar o modelo; sobretudo nos pontos em que o original revelou fraqueza, modernizando detalhes estéticos.
O alumínio é a cor dominante da carroçaria, com um acabamento de aço escovado. Mas a capota de lona mantém-se próxima da que era usada no final dos anos de 1960. Já a iluminação, recorre às soluções mais modernas: com faróis de HID (descarga de alta intensidade) e LED, à frente e atrás, respectivamente.
Texto: Alexandre Correia
Fotos: D.R.